foto daniel de andrade simões
Às vésperas dos 50 anos do golpe militar de 64, ainda ouvimos familiares de mortos e desaparecidos: Queremos dar uma sepultura para os nossos parentes. À dor da perda soma-se a angústia pela falta de informações sobre as circunstâncias, datas e locais em que as mortes ocorreram. O lamento dessas famílias é um grito de exigência para manter-se viva a memória do período. Reconhecendo direitos, medidas governamentais avançam no sentido de recriar a ação da ditadura militar em relação à violação de direitos humanos, resgatando memórias, promovendo reparações. Louvamos a Comissão da Anistia Política, o Memórias Reveladas, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Baiana da Verdade instalada pelo Governador. Na Bahia sugerimos mais. Ressignificar os espaços públicos utilizados como locais de tortura a presos políticos na ditadura, transformando-os em áreas para manifestação da sociedade como centros de memórias, histórias, artes e culturas. O Forte do Barbalho, a Galeria F e todo o Corpo IV da Penitenciária Lemos de Brito, a casa de Detenção, a Auditoria Militar, a antiga Polícia Federal, são possibilidades para esse fim. Justa homenagem àqueles que fizeram a história recente do país e, precocemente, perderam a vida em nome do que acreditavam. Outros Estados já o fizeram, com sucesso, sendo importantes pontos de visitação pública. Os governos do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul desenvolvem projetos similares. A memória histórica constitui uma das mais fortes e sutis formas de dominação e de legitimação do poder. A institucionalização da memória oficial serve como justificadora do projeto político de dominação. Tradicionalmente, são os porta-vozes de grupos ou classe social hegemônica que impõem a sua visão, selecionando os agentes sociais que devem ser lembrados e os que devem ser apagados da memória social. É preciso ampliar as condições que permitam desmontar a trama dessa dominação, pois a espoliação das lembranças é um dos mais cruéis exercícios da opressão. Não se pode, não se deve esquecer. Ditadura nunca mais.
Rui Patterson, advogadoruipatterson@terra.com.br
Publicado em 09-03-2013 n jornal A Tarde, Bahia.
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