sábado, 9 de março de 2013

Memorial às Vítimas Baianas da Ditadura por Rui Patterson

foto daniel de andrade simões

 Às vésperas dos 50 anos do golpe militar de 64, ainda ouvimos familiares de mortos e desaparecidos: Queremos dar uma sepultura para os nossos parentes. À dor da perda soma-se a angústia pela falta de informações sobre as circunstâncias, datas e locais em que as mortes ocorreram. O lamento dessas famílias é um grito de exigência para manter-se viva a memória do período. Reconhecendo direitos, medidas governamentais avançam no sentido de recriar a ação da ditadura militar em relação à violação de direitos humanos, resgatando memórias, promovendo reparações. Louvamos a Comissão da Anistia Política, o Memórias Reveladas, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Baiana da Verdade instalada pelo Governador. Na Bahia sugerimos mais. Ressignificar os espaços públicos utilizados como locais de tortura a presos políticos na ditadura, transformando-os em áreas para manifestação da sociedade como centros de memórias, histórias, artes e culturas. O Forte do Barbalho, a Galeria F e todo o Corpo IV da Penitenciária Lemos de Brito, a casa de Detenção, a Auditoria Militar, a antiga Polícia Federal, são possibilidades para esse fim. Justa homenagem àqueles que fizeram a história recente do país e, precocemente, perderam a vida em nome do que acreditavam. Outros Estados já o fizeram, com sucesso, sendo importantes pontos de visitação pública. Os governos do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul desenvolvem projetos similares.  A memória histórica constitui uma das mais fortes e sutis formas de dominação e de legitimação do poder. A institucionalização da memória oficial serve como justificadora do projeto político de dominação. Tradicionalmente, são os porta-vozes de grupos ou classe social hegemônica que impõem a sua visão, selecionando os agentes sociais que devem ser lembrados e os que devem ser apagados da memória social. É preciso ampliar as condições que permitam desmontar a trama dessa dominação, pois a espoliação das lembranças é um dos mais cruéis exercícios da opressão. Não se pode, não se deve esquecer. Ditadura nunca mais.
Rui Patterson, advogadoruipatterson@terra.com.br
Publicado em 09-03-2013 n jornal A Tarde, Bahia.

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