Texto e foto daniel de andrade simões
SAITICA - Ave noturna, do entardecer, quando o sol começa arrumar o travesseiro para dormir, ouve-se seu canto à distância. É o vento chegando para trazer notícias. A vó Safira levanta-se para receber a nova lista que chega. Uns com mortes já anunciadas, outros chegam de surpresa, sem anúncio e ainda com sangue e corpo quente. Aconteceu ainda agorinha,... fala como se fosse uma senha. Ela transforma-se em ave, vai para a cumeeira e inicia seu canto triste. Fala com os recém chegados, cobrindo com suas asas mornas. Acalma cada um que se aproxima.Transforma cada um em ave do sertão...
O tempo passa rápido, são muitos na lista, parece que vive de morte a vida, mas...há lugar para todos, parentes, amigos e mesmo para loucos e desprotegidos, assim segue, seu canto anunciando as estações. Elas mudam como o vento. Quando chega o frio, vem o inverno. Quente é o verão da seca, estação que trará mais hóspedes.Vento morno, é hora de visitas, à tardinha, hora triste do adeus. Ouve-se sempre o canto de agouro, anunciando o buraco feito. É a vó Safira incansável. Quando alça vôo, sente a magnífica obra da natureza, o verde aéreo dos coqueiros, cajueiros e jaqueiras, recortando o azul do céu. Do alto, vê as curvas empoeiradas, o calor faiscante do chão. Se mais não sobe não é por cansaço nas asas, é por não caber maior quantidade de medo ao criador. No sertão ronda o perigo. É preciso evitar a morte matada. O matador anda nas estradas, lava seu corpo no riacho, mas sua alma continua suja e asquerosa !
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