Parentes de vítimas mortas e desaparecidas durante a ditadura militar brasileira - fotos daniel de andrade simões
Habeas Corpus - que se apresente o corpo, livro organizado pelo jornalista Carlos Azevedo e lançado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, traz pistas que vão facilitar a localização dos cadáveres ocultos pela ditadura militar. As histórias dos desaparecidos e de seus algozes, consolidadas no livro, são resultado da atuação do Ministério Público Federal (MPF) e do Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa, que busca os corpos de 70 desaparecidos no Araguaia. O livro aponta o papel do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e de seu diretor na época, o falecido senador Romeu Tuma, na operação limpeza que apagava os vestígios das mortes sob tortura, produzindo atestados de óbito com nomes falsos, simulando, em inquéritos, suicídios e tiroteios, ocultando os fatos que levaram à morte e ao sumiço dos corpos de dezenas de desaparecidos. Em 1991, quando da entrega dos arquivos do DOPS ao governo de São Paulo, confirmaram-se os atos praticados por Tuma, mas o livro é essencial porque oficializa as acusações e traz revelações sobre estes crimes também fora do Estado de São Paulo.
Os procuradores do MPF confirmam que o DOPS documentava os casos de maneira a ocultar a real razão da morte e impedir a localização dos restos mortais das vítimas e, em 2009, entraram com uma ação civil pública para responsabilizar os envolvidos. Romeu Tuma, assim como Harry Shibata, médico-legista do Instituto Médico Legal que, assinando laudos falsos, validava a versão do DOPS, estão entre os réus da ação, que prossegue mesmo com a morte do delegado. Os mortos e desaparecidos deram o melhor de si, seu talento, sua coragem, sua juventude, sua vida pela democracia que hoje vivemos. O material ora publicado, que revolve as cinzas ainda não apagadas de um passado recente, ajuda a estabelecer a verdade, a restaurar responsabilidades e, esperamos, levar à punição dos culpados. Com sigilo eterno de documentos oficiais, as famílias desses desaparecidos jamais encontrarão a paz e não poderão proceder ao ritual de despedida dos seus mortos. Publicado no jornal A TARDE – Bahia, em 12/08/2011
Tãnia Miranda- historiadora, mestra em educação. tania.miranda@terra.com.br
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