No início dos anos 90 a fantasia usada pelos
carnavalescos era a mortalha, um camisolão ou túnica de chita, um tecido de
algodão ralo, com estampas coloridas, às vezes com mangas compridas, um capuz e
chapéu, unissex, substituindo as antigas fantasias de pierrô e colombina
europeus, prática, barata e resistente. A mortalha identificava o bloco ou
trio, e isso era mais importante que o artista ou a banda, cuja função era
puxar ou comandar o bloco. O mistério fazia parte do carnaval e podia-se
brincar todos os dias com a mesma mortalha sem que os parceiros de folia
soubessem a identidade do outro, beijos roubados com um discreto levantar do
capuz, enquanto Caetano Veloso ordenava que era proibido proibir nos blocos
Jacu, Barão, Top 69.
A ditadura militar decretou o fim das máscaras,
capuzes e disfarces identificadores dos foliões preocupada com a segurança. A
mortalha adquiriu um colorido psicodélico com frases expressando liberdades
sexuais e comportamentais, mas ainda era um camisolão apesar dos esforços das meninas
para transformá-la, fazendo nas mangas um recorte ou amarrando-as graciosamente
e liberando ombros e parte do colo, enquanto que a parte de baixo era agora um
saiote, na altura dos joelhos, que podia ser aberto como os quimonos orientais.
Nesse momento é que o designer gráfico Pedrinho da
Rocha estabelece com o compositor e cantor Durval Lelys, do bloco Asa de Águia,
uma modificação da mortalha chamando-a de “abadá”, que em iorubá significa
“camisa”, na verdade camisola ou bata de jogar capoeira. Era agora uma camiseta
sem mangas e com gola cavada, impossibilitando a sua divisão ou utilização por
mais de uma pessoa. A “mamãe sacode” ficou perdida no tempo e lembranças dos
foliões, assim como os chapéus e capuzes, eliminados para diminuir os custos de
produção. A novidade foi lançada no bloco Eva no carnaval de 1993, e todos os
blocos aderiram. Tiveram ainda a idéia de combinar o tema do abadá com a banda
e a música, formando um todo estético, e a criação de um abadá para cada dia de
apresentação do bloco, um sucesso do ponto de vista mercadológico,
possibilitando ao folião escolher os dias e blocos do seu interesse, não mais
vinculado a determinado bloco ou trio.
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