foto daniel de andrade simões
ABRINDO OS PORÕES DA DITADURA
TâniaMiranda, historiadora, mestre em educação
A jornalista Vanessa Gonçalves nos presenteia com o comovente livro Eduardo Leite Bacuri, publicado pelaPlena Editorial. Covardemente executado aos 35 anos, em 7/12/1970, auge daditadura militar, pelas mãos da equipe do delegado Sérgio Fleury.
Em24/10/1970, preso no Deops/SP, Bacuri é informado por seus algozes que o jornaldaquele sábado noticiava a sua fuga. Sabia o que isso significava, mas se mantevetranqüilo, segundo depoimento de seu companheiro de prisão. No momento em que foi retirado da cela para a morte, os 50 presos políticos que acompanharam a macabra preparação do seu assassinato explodiram em protestos. Gritos, batidas nas portas, nas grades, nos beliches – em tudo que provocasse barulho.
A via-crúcis de Eduardo Leite, militante de várias organizações de resistência à ditadura militar – POLOP (Política Operária), VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e ALN (Ação Libertadora Nacional) -, conhecido como Bacuri, durou 109 dias. Preso em 21/8/1970, no Rio, foi interrogado em centros de tortura da Marinha, do Exército e da Polícia Militar entre o Rio e São Paulo. Esteve na Casa daMorte, sítio clandestino localizado em Petrópolis (RJ), para onde eram levados os presos políticos considerados, pela repressão, de maior importância. No dia8/12/1970, o corpo de Bacuri foi encontrado no litoral norte do Estado de SãoPaulo.
foto daniel de andrade simões
Com hematomas, escoriações, cortes profundos, queimaduras, dentes arrancados e os olhos vazados. No dia anterior, o embaixador da Suíça havia sido seqüestrado e o nome de Eduardo com certeza estaria na lista dos presos políticos, cuja libertação seria pedida em troca do diplomata. A repressão não podia apresentá-lo. Seu corpo estava dilacerado pelas torturas. O laudo da sua morte é estarrecedor. Os médicos-legistas respondem “não” ao item que pergunta se houve tortura.
Denise Crispin, sua mulher, também detida, foi libertada em função do avançado estadode gravidez. Na Itália, onde se refugiou, deu à luz uma menina. Bacuri não chegou a conhecer a filha Eduarda.
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