Em pouco mais de 30 horas, num estilo profissional de impeachment made in Paraguay, Fernando Lugo, presidente democraticamente eleito, foi deposto - mais apropriado dizer - enxotado da presidência. O pretexto alegado é tão patético que deve fundamentar-se numa cópia do Direito Constitucional adquirida de contrabandistas. Ocupar terras para nela trabalhar e manter suas famílias subverte leis e justifica a derrubada de um presidente. Direito de defesa? Até as pedras perceberam que lhe foi usurpado. A cara de paisagem do Pentágono em relação ao fato é uma boa pista para identificar o roteirista desse triste espetáculo. Assistimos, em nova modalidade, um grave atentado à democracia a ser inserido nas “veias abertas da América Latina”. Esse modelo de golpe, inaugurado em Honduras em 2009, articulado na base aérea que os EUA mantêm naquele pequeno país centro-americano, destituiu o presidente Zelaya. Aplicado agora, com sucesso, ao menos por enquanto, no Paraguai. Não surpreende que isso ocorra em governos que não rezam na cartilha do sagrado direito de propriedade, governos cujas políticas são voltadas para as causas populares. Tanto Zelaya quanto Lugo, vinham tentando melhorar o acesso à terra a camponeses secularmente explorados por grandes latifundiários e realizar ações de proteção social aos menos favorecidos. Ação intervencionista - explícita ou oculta - das grandes potências, em especial dos norte-americanos, nos países mais frágeis e dotados de recursos naturais estratégicos, é prática antiga. Do ponto de vista da oligarquia paraguaia nada mais vantajoso do que apoiar-se no seu irmão do norte para manter seus privilégios em desfavor da maioria do povo. A Frente pela Defesa da Democracia no Paraguai prepara a resistência. São partidos de esquerda, movimentos sociais agrários e indígenas, centrais sindicais e de trabalhadores rurais. Esperando sucesso nessa luta, lembro as primaveras dos indignados mundo afora: Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir. Democracia real ya!
Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação.miraanda@terra.com.br
foto daniel de andrade simões
foto daniel de andrade simões
Quem mesmo está por trás do golpe de estado parlamentar que denunciou, julgou e condenou o presidente Lugo em pouco mais de 24h?
A página do G1 colocou uma curiosa matéria que trata da satisfação dos chamados “brasiguaios” com a destituição do presidente paraguaio:
“Brasiguaios” comemoram a mudança no governo do Paraguai
Agricultores acreditam que conflitos com campesinos serão amenizados.
Os “brasiguaios” – agricultores brasileiros que vivem no Paraguai, na fronteira com o Brasil – ficaram satisfeitos com a saída de Fernando Lugo e a posse do novo presidente, Federico Franco. Para eles, a mudança no governo do Paraguai será benéfica para os produtores e ajudará a diminuir o conflito entre camponeses e fazendeiros.
“Nós estamos muito felizes. Isso é um avanço para a nossa agricultura”, diz ao G1 o produtor brasileiro Afonso Almiro Schuster, que mora há 39 anos em Santa Rosa del Monday.
Um comentário:
Bom acompanhar por aqui o que está acontecendo com o nosso vizinho Paraguai.
Abc,
Marília
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