foto daniel de andrade simões - VETA DILMA, VETA ESSA PORRA !
Lembranças do cárcere
“Acordei com sol alto, o barulho das vozesde comando e das evoluções dos soldados no pátio. Não conseguia respirar, qualquer movimento era doloroso, as costelas pareciam fora de lugar, perfurando literalmente os pulmões. Os olhos estavam fechados por uma mistura de sangue, saliva, sujeira do piso da cela, sem força para abri-los. Os braços inertes, inchados, marcados pelas cordas, mãos que pareciam de outra pessoa maior e mais forte, pesadas e duras, dedos sem movimentos. Não sentia, via ou movia as pernas, a calça suja de excremento e urina, molhada pelas tentativas de me acordarem. A porta da grade se abriu, o soldado deixou o caneco com café e opedaço de pão. Pedi, gesticulando, para que ele me levantasse. Suspendendo-me por baixo dos braços, ele encostou-me na parede com nojo e, sentindo o fedor, fitou-me horrorizado, as dores lancinantes no corpo até que o cérebro acordou mas, sem oxigenação, o peito se recusava a bombear o ar. Eu tinha sobrevivido à tortura. Estava em péssimo estado, mas vivo.
- Companheiro, você está mal, agüenta, você se recupera. O importante é que o deixaram em paz. Fique calmo, não vai apanhar mais. Era a voz de Daniel de Andrade Simões me dando força”. (p. 35).
A dor e a solidariedade nas prisões baianas durante a ditadura militar.Vale a pena conferir o livro QUEM SAMBA FICA Memórias de um ex-guerrilheiro,escrito pelo consagrado advogado baiano Rui Patterson
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