terça-feira, 28 de maio de 2013

Pensageiro Frequente por Mia Couto

                                                          foto daniel de andrade simões

Ninguém, em verdade, viaja para uma ilha. As ilhas existem dentro de nós, como um território sonhado, como um pedaço do nosso passado que se soltou no tempo. Esse fantasma insular, em mim estreou-se quando Jonito morreu e meus pais disseram que ele tinha ido para uma ilha no meio de Chiveve. Eu era menino, Jonito era um cágado e o Chiveve não era sequer um rio verdadeiro. Como podia aquele riacho ter água suficiente para anichar uma ilha ? Mas nada nesse tempo era verdadeiro. Sobretudo a morte não era verdadeira. E Jonito passeou, durante toda a minha infância, a sua cautelosa lentidão nesse pedaço de terra rodeado pelas escuras águas do Chiveve.
Mia Couto 

Mia Couto, escritor moçambicano é o vencedor do Prêmio Camões

foto daniel de andrade simões

O romancista moçambicano Mia Couto, de 57, foi o vencedor da edição de 2013 do Prêmio Camões, o principal de literatura em língua portuguesa. Anunciado nesta segunda-feira, o prêmio concede 100 mil euros a Couto. No ano passado, o vencedor havia sido o contista brasileiro Dalton Trevisan.
O Prêmio Camões foi criado em 1989 pelos governos de Portugal e Brasil para premiar autores que contribuissem para a projeção da língua portuguesa no mundo. Mia Couto é o segundo autor de Moçambique a vencê-lo. Em 1991, o poeta José Craveirinha já havia recebida a honraria. José Saramago, Rachel de Queiroz, João Cabral de Melo Neto, Manuel António Pina e Ferreira Gullar também foram homenageados em anos anteriores.
Mia Couto estreou na literatura há 30 anos, com um livro de poemas. Desde lá, lançou romances como O Último Voo do FlamingoO Outro Pé da Sereia, e está prestes a lançar Cada Homem é Uma Raça, de contos, pela Companhia das Letras.Segundo a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), responsável pela premiação no Brasil, a decisão do júri foi unânime. Os jurados foram Clara Crabbé Rocha e José Carlos Vasconcelos, de Portugal, Alcir Pécora e Alberto Costa e Silva, do Brasil, João Paulo Borges Coelho, de Moçambique, e José Eduardo Agualusa, de Angola.
Na nota, a FBN citou o livro Terra Sonâmbula como "um dos dez melhores livros africanos do século 20".

segunda-feira, 27 de maio de 2013

QSF-MEG, pela historiadora e militante da resistência à ditadura militar - Tânia Miranda

Tânia Miranda
São tantos os méritos do livro do famoso advogado baiano, Rui Patterson, -Quem Samba Fica – memórias de um ex-guerrilheiro -, impossível caber num pequeno texto. Mas vamos lá. Tentarei um modesto exercício.
Professora de História, durante anos, constato que nos livros didáticos, o movimento de resistência à ditadura era ignorado. O período – 1964-1985 – sempre retratado do ponto de vista dos militares, exaltando-se as “grandes ações”, como o “milagre econômico”, exemplares biografias nacionais dos presidentes. Aos poucos, também por pressão de nós professores, isso foi mudando. Mas, a resistência, quando passa a fazer parte da História do Brasil, é limitada ao eixo Rio-São Paulo. Alguns “eventos” que ocorrem em outros Estados, como a vinda de Lamarca para a Bahia – citando apenas um -, são descritos como extensões ou “necessidades” dos Estados que, de acordo com esses livros, sediavam a resistência.
Diante desse grave e lamentável erro histórico, – ainda não corrigido -, não poucas vezes, tive que “convencer” os estudantes de que a história não era bem essa. A resistência foi nacional.  
A maioria dos autores de livros sobre a temática, militantes da resistência, involuntariamente, creio eu, reforçam a linha da “política dos grandes estados”. QSF-MEG: uma das raras exceções. (leiam o livro de Rui Patterson e vão perceber a desconstrução, leve e serena, intencional ou não – não sei -, dessa lógica dos “grandes estados”, porque meu propósito não é reproduzi-lo, nem seria capaz).
Aí está, um dos inúmeros méritos de QSF-MEG. A quebra desse mito. Sem tirar a importância dos livros dos sobreviventes-autores, em especial dos baianos, muito pelo contrário, quantos vierem serão bem-vindos, pela Verdade Histórica. Nossa herança maior.
                                                               foto daniel de andrade simões
Rui, codinome guerrilheiro-Roque, reconhece e homenageia a militância dos baianos, independente de suas correntes, opções, convicções, erros e acertos. Numa viagem nacional sem preconceitos, dá voz ao interior da Bahia, onde a resistência resiste. Anônima, até Rui, o Roque.
Outro grande mérito de QSF-MEG. Fazendo a ponte, sem perder o rumo, vai além de 1985 (merece outro livro, RQ). Resgata a luta dos advogados baianos em defesa dos presos e ex-presos políticos, dos perseguidos e injustiçados, pós-ditadura. Com precisão, quase cirúrgica, a árdua luta desses profissionais em defesa do livre sindicalismo, é registrada. O atual governador da Bahia, Jaques Wagner, num episódio narrado em QSF-MEG, feito uma cena cinematográfica, digna de filmes de ação, é libertado pela ação profissional- exemplar, do nosso autor, junto a outros corajosos que ele dá nomes. Quando esses profissionais, até hoje comprometidos com a democracia e a justiça, terão o reconhecimento histórico devido¿
2014: 50 anos do golpe de 64 se aproxima. É preciso acontecer. “Navegar é preciso”. Do contrário, a História “oficial” será como a contada nos livros didáticos. Longe da Verdade. À serviço dos poderosos de plantão.

domingo, 26 de maio de 2013

Anos de Chumbo (1978) - Poeta e Jornalista, (filho do juiz, Dr. Maia) joga-se com seus poemas de um edifício no Rio de Janeiro

                         Poeta e jornalista Luiz Carlos Maia Bittencourt no Rio de Janeiro com colegas
                                         Poeta e jornalista Luiz Carlos Maia Bittencourt
    O poeta e jornaista Luiz Carlos Maia Bittencourt em Salvador com os amigos ... Jurema e  Sarno  
Daniel de Andrade Simões e o poeta Luiz Carlos Maia Bittencourt


                                   Rotinização do Carisma

                                    O carisma adoeceu
                                    ronca alto
                                    entre as velhas ferragens
                                    das prisões burocráticas

                                    Doces estímulos mágicos
                                    apodrecem ocos
                                    em carcaças inóspitas
                                    das prisões democráticas

                                    Na rotação do tempo
                                    o carisma emerge delirante
                                    imerge transfigurado
                                    Absorve agora
                                    impessoais estímulos
                                    dos que optaram
                                    pela rotinização

                                               luiz carlos maia bittencourt




sábado, 25 de maio de 2013

Viajantes da Estrela Azul

             Iris Rezende, Franco Montoro e Brizola - foto daniel de andrade simões

Teotônio Vilela, incansável defensor dos presos políticos e da liberdade no Brasil

                                                             foto daniel de andrade simões

JUDEUS E JUDIAS NA LUTA CONTRA A DITADURA MILITAR
(Homenagem a Liliane e Sara Orenstein, Mário Kertesz, Maurício Szporer e outros)
"Ivanna Feldmann acompanhou-me no setor jurídico do Sindicato dos Engenheiros da Bahia. Transferida pelo PCBR para o setor mineiro em Jaguarari, interior da Bahia, incapaz de resistir à solidão e às dificuldades de sobrevivência no povoado mineiro, deu fim à própria vida. Ivanna Denijke Couto Nobre Feldmann, mulher extraordinária e de rara sensibilidade, abandonou a família e uma vida de opulência para abraçar a causa revolucionária, merecendo, mais que essas palavras a seu respeito, um trabalho biográfico onde essas qualidades, desprendimento e solidariedade aos despossuídos seja melhor desenvolvido.
Proponho a inscrição do nome de Ivanna Denijke Couto Nobre Feldmann no livro Direito à Vida e à Liberdade, da Comissão de Anistia, sua condição de militante política e seu falecimento decorrente das perseguições e os efeitos psicológicos que redundaram na sua morte trágica, com fundamento na lei 9.140, de 4.12.95".
(Quem Samba Fica - Memórias de Um Ex-Guerrilheiro, pág. 201/202)


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ainda sobre Quem Samba Fica, por Rui Patterson

                               foto daniel de andrade simões 

MAIS DO QUEM SAMBA FICA - MEMÓRIAS DE UM EX-GUERRILHEIRO

MAIS DO QUEM SAMBA FICA - MEMÓRIAS DE UM EX-GUERRILHEIRO
Três preocupações na base deste livro: a família, os 'desaparecidos desaparecidos' (ou quem foi pra luta e não apareceu nos processos, obituários, comissões e listas disso e daquilo, tá vivo e quieto no seu canto, amargurado e sem reconhecimento porque comeu o sal e palmilhou as estradas e ninguém deu bola) e, por último, os advogados, serem maravilhosos, a quem muitos devem a vida e a maioria deve a liberdade.
No livro resgato as famílias, aí incluídos amigos, maridos, esposas, noivas, namoradas, e dou-lhes o devido reconhecimento, o que ninguém, nunca antes nesse país, fez. Sem elas, a cadeia teria sido muito mais difícil e complicada do que foi.
Resgato os 'desaparecidos' Bira Gordo, ou Ubiratan de Castro Araújo, Israel de Oliveira Pinheiro, Candinha, codinome da companheira Sonia Gomensoro, Maria Cristina Gomes Pereira e Albene Miriam Ferreira Menezes, estes só do nosso grupo político e do meu conhecimento, porque são muitos mais. Foram perseguidos, mas não presos, nem responderam a processos, estando nessa categoria nebulosa de 'desaparecidos desaparecidos', porque jamais apareceram, embora tenham lutado.
Por fim, resgato os advogados, nas pessoas de Jaime Guimarães, que puxou o fio dessa meada, Ronilda Maria Lima Noblat, que lhe deu sequência, Joaquim Inácio Santos Gomes, José Borba Pedreira Lapa e Aristides Oliveira, exemplos de dignidade e de coragem naqueles duros tempos de chumbo.
Como o QSF-MEG é uma obra em progresso, deixo abertas as contribuições para aumentar nomes de familiares e amigos, de 'desaparecidos' e de advogados.
A OAB - BA, nunca neste Estado e país, que eu me lembre e saiba, deu a seus advogados defensores de presos e perseguidos políticos o devido reconhecimento.
Luiz Viana Queiroz e Luiz Coutinho certamente farão este reparo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Onde a Esperança de Refugiou - Exposição organizada pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos

Exposição em 5 Eixos que proporciona ao visitante a contextualização nacional e internacional dos momentos históricos em que se estabeleceram as ditaduras na América Latina. Eixo 1 - Contexto Político Brasileiro e Latino-Americano. Eixo - 2 A Ditadura Militar no Brasil. Eixo 3 - Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Eixo 4 - Transição Política no Cone Sul, Anistia/Redemocratização. Eixo 5 - Políticas da Memória.

















                                                          fotos daniel de andrade simões 

sábado, 4 de maio de 2013

Homens que lutam toda sua vida por justiça e direitos humanos, um destes é Jair Krischke

       Jair Krischke - Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos
                                  


 Exposição sobre a ditadura militar e civil, organizada pela MOVIMENTO de Justiça e Direitos Humanos - local: Usina do Gasometro, fica até o dia 05.04.2013 - fotos daniel de andrade simões 

Morre em São Paulo o sindicalista José Ibrahim

                                                       foto daniel de andrade simões                    

Estamos todos morrendo, Saitica. Sem o justo respeito histórico.Tô morrendo. Atacada e atacando.

  • Ele foi um dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, que aparecem em foto histórica

Germano Oliveira (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 2/05/13 - 18h48
Atualizado: 2/05/13 - 20h12

José Ibrahim, em destaque na foto histórica, e em imagem mais recente
Foto: Divulgação / Arquivo O Globo

José Ibrahim, em destaque na foto histórica, e em imagem mais recente Divulgação / Arquivo O Globo 
SÃO PAULO - A histórica fotografia dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, quando embarcavam para o exterior a bordo de um avião Hércules 130 ds FAB, perdeu nesta quinta-feira um dos seus integrantes, o sindicalista José Ibrahim, que na imagem aparece ao lado do ex-ministro José Dirceu. Ibrahim, de 66 anos, teria morrido de infarto, segundo as primeiras informações, enquanto dormia em seu apartamento no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Ele foi um dos principais sindicalistas brasileiros, internacionalmente conhecido por ter liderado, em 1968, uma das maiores greves de metalúrgicos contra o regime militar, antes mesmo do surgimento de Luiz Inácio Lula da Silva, que só começou a liderar paralisações no final da década de 1970.
O ano de 1968 foi marcado por grandes manifestações por liberdade em vários pontos do mundo, como a Primavera de Praga e a revolta dos estudantes em Paris. No Brasil, a luta era contra a ditadura militar instalada em 1964. O jovem José Ibrahim, então com 21 anos, era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, que, a exemplo dos metalúrgicos de Contagem (MG), lutava por melhores salários da categoria. Desde 1967, Osasco despontava como o polo central do movimento sindical em oposição ao regime militar, e Ibrahim já se destacava, embora ainda muito jovem. Mas foi em julho de 1968 que os sindicalistas da cidade marcaram a história brasileira naqueles difíceis anos de chumbo.
No dia 16 de julho, Ibrahim e sua turma resolveram parar todas as metalúrgicas de Osasco e, nesse dia, ocuparam as instalações da Cobrasma, um das mais importantes fábricas de São Paulo. Depois dela, paralisaram também as atividades de grandes metalúrgicas, como a Barreto Keller, Braseixos, Granada, Lonaflex e Brown Boveri.
- Eu comecei a trabalhar na Cobrasma ainda menor, com 14 anos, em 1961, mas já entrei participando porque eu era politizado, era secundarista e já tinha um certo nível de conhecimento, de literatura marxista e de fazer política - disse Ibrahim ao blog de José Dirceu, em julho de 2008.
Preocupado com a crescente onda grevista no país, os militares resolveram intervir no sindicato dirigido por Ibrahim, ocuparam todas as fábricas, cercaram entradas e saídas da cidade e o Ministério do Trabalho decretou a ilegalidade do movimento. Por ordem do então governador de São Paulo, Abreu Sodré, os trabalhadores foram reprimidos e 60 líderes da greve foram levados para o Dops paulista, onde a tortura de presos era rotina. Toda a diretoria foi cassada e os grevistas, afastados. Ibrahim foi demitido sem receber qualquer direito trabalhista.
Começou aí sua vida na clandestinidade. Optou por entrar para a luta armada, por meio da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Acabou preso e foi barbaramente torturado. No dia 6 de setembro de 1969, Ibrahim era um dos 15 presos políticos brasileiros que foram trocados pelo embaixador Elbrick. Além de Ibrahim e José Dirceu, estavam no avião Hércules 130 da FAB, rumo ao exílio no México, militantes de esquerda como Vladimir Palmeira, Ricardo Zaratini, Flávio Tavares, Ivens Marchetti, Ricardo Villas e Gregório Bezerra, entre outros. Antes de embarcarem para o México, no Aeroporto do Galeão, fizeram a histórica foto, que até hoje ilustra os principais livros da esquerda brasileira sobre a história da luta contra a ditadura militar.
- Foi uma lista ecumênica - disse o jornalista Franklin Martins, um dos articuladores do sequestro do embaixador americano, algum tempo depois, ao se lembrar de como foi montada a lista com os nomes dos presos políticos brasileiros, pertencentes ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), da Ação Libertadora Nacional (ALN), da VPR de Ibrahim, da dissidência de Niterói do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que optaram pela luta armada contra os militares.
Exilado, Ibrahim morou dez anos no exterior, no Chile, Panamá, México e França. O sindicalista voltou ao Brasil em 1979, com a Lei da Anistia. Em 1980, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), ao lado de Lula, mas em 1986 rompeu com o partido e se filiou ao Partido Verde (PV). Recentemente, participou da fundação da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Como dirigente sindical, vinha participando da Comissão Nacional da Verdade, com depoimentos sobre a ditadura militar.
Nos últimos anos, morou com a família no apartamento da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Como bom corintiano, nesta quarta-feira assistiu ao jogo do Corinthians contra o Boca Juniores, no qual os argentinos ganharam por 1 a 0, ao lado do filho Gabriel, de 16 anos. Ao final do jogo, foi dormir. Nesta quinta-feira cedo, a mulher Helena saiu para trabalhar e o filho Gabriel foi para a escola. Quando o jovem retornou para casa, por volta das 13h, viu que o pai estava morto na cama no quarto do casal. A autopsia ainda estava sendo feita na noite desta quinta-feira, mas os amigos acreditam que foi morto por um infarto no coração. O corpo será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O sepultamento deve acontecer às 17h desta sexta-feira no Cemitério Bela Vista, em Osasco.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Perguntas do Mia Couto à Língua Portuguesa

        Mia Couto, Rui Barbosa e Priscila Weber - foto daniel de andrade simões


      Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros
embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos
faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam
cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.

     A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O
que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando
o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas
dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões?

     Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente
se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.