foto daniel de andrade simões
Ninguém, em verdade, viaja para uma ilha. As ilhas existem dentro de nós, como um território sonhado, como um pedaço do nosso passado que se soltou no tempo. Esse fantasma insular, em mim estreou-se quando Jonito morreu e meus pais disseram que ele tinha ido para uma ilha no meio de Chiveve. Eu era menino, Jonito era um cágado e o Chiveve não era sequer um rio verdadeiro. Como podia aquele riacho ter água suficiente para anichar uma ilha ? Mas nada nesse tempo era verdadeiro. Sobretudo a morte não era verdadeira. E Jonito passeou, durante toda a minha infância, a sua cautelosa lentidão nesse pedaço de terra rodeado pelas escuras águas do Chiveve.
Mia Couto
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