terça-feira, 29 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Cuspir na cara dos torturadores e assassinos semp re! Prisão para todos eles !
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
“Eu não me arrependo do cuspe, porque eles também não se arrependem do que fizeram na ditadura”
Felipe Garcez está sendo processado pelo Clube Militar por “constrangimento ilegal”. Ele foi flagrado cuspindo em um militar que comemorava o golpe de 64. Foto: Ana Helena Tavares |
“Eu milito na área dos Direitos Humanos e, quando a gente ficou sabendo que os militares iam festejar o golpe, eu me senti na obrigação pessoal de estar lá e protestar. Aí, nós combinamos pelo Facebook, e não imaginávamos que seria o que foi. Não houve organização prévia. Eu chamo essas atividades de “Flash Móvel”, foi espontâneo: um contou pro outro, que contou pro outro e, assim, aconteceu. Cresceu mais do que a gente.”, relatou, em entrevista exclusiva para o “Quem tem medo da democracia?”, o jovem de 22 anos Felipe Garcez.
Flagrado cuspindo
Garcez foi fotografado, naquele dia, cuspindo na direção de um militar que participava da comemoração. A foto, da Agência Estado, foi publicada, na época, no site da Veja, por Reinaldo Azevedo, que chamou Garcez e seus colegas de “baderneiros”. O fato de o cuspe ter sido registrado lhe rendeu um processo na Justiça, onde aparece como autor.
“Eles alegam tipificação de “constrangimento ilegal”. Também pelo cuspe, mas não só por isso. Por todo o ato. Pelos ovos que jogaram. Pelos xingamentos que eles alegam que tiveram. Por toda a situação, que eles dizem que eu sou o responsável. O que é uma insanidade dizer que eu sou o responsável. Outras pessoas estão arroladas junto, mas só estão sendo investigadas. O Clube Militar, que foi quem pediu a abertura de inquérito, me coloca como autor. Eu e mais quatro pessoas, se não me engano. Alguns meus amigos. Posso citar o Ádio, Eduardo Beniacar, Matheus Aragão, que conheço só de vista, e o Silvio Tendler (cineasta, que nem estava presente).”
Sem arrependimentos
“A nossa idéia nunca foi ir para lá agredir eles. A nossa idéia foi protestar mesmo. Porque é uma situação em que os caras debocham. Eles dizem assim: ‘Não matamos comunistas, matamos porcos. Tinha que matar mesmo. Fizemos pelo Brasil’. Eram frases ditas para a gente. É claro que eu não queria que tivesse chegado a isso, mas eu não me arrependo (do cuspe), porque eles também não se arrependem do que fizeram (na ditadura). O pessoal levou fotos (dos desaparecidos políticos) e eles (os militares) apontavam para elas e diziam: ‘Matei! Matei mesmo!’ Então, no dia que eles disserem que se arrependem disso, eu direi que me arrependo do cuspe.”
O militar em quem Garcez foi fotografado cuspindo é o Coronel-aviador Juarez, presidente do Ternuma, grupo de extrema-direita chamado “Terrorismo Nunca Mais”. “É um grupo que defende a ditadura. Não é ele quem está me processando. Eles se utilizaram do Clube Militar para isso, mas ele está relacionado como uma das vítimas. Como também o Coronel Batista, do Exército, e o cara que matou Lamarca (General Cerqueira). Eles estavam todos lá e estava também a família Bolsonaro, que é toda estranha. Muita gente cuspiu e vários deles foram cuspidos. Eles nunca tinham passado por aquilo.”
“Ele disse que devia ter matado o meu pai”
“No Cel. Juarez eu nem cheguei a cuspir. O que eu tentei foi evitar que ele chegasse a mim. Ele veio para me agredir. Ele disse que devia ter matado o meu pai. Tinha um monte de gente dizendo para ele: ‘Você matou comunistas’. E ele me disse: ‘Devia ter matado o seu pai’. Então, para mim, foi uma reação, legítima defesa.” O pai do jovem estava presente à entrevista e, paradoxalmente, se diz um homem de direita.
Garcez conta que não estava em casa quando a polícia levou intimação para ele depor na 5ª DP, em 10 de Janeiro de 2013, e que se impressionou com a forma de abordagem: “Eu senti que a própria polícia queria me intimidar, pois não fazia sentido nenhum eles mandarem 3 viaturas para me entregar um papel. E bateram de casa em casa dos meus vizinhos. E trataram eles mal, falando com eles de fuzil na mão. Foram brutos. Mas, na delegacia, o inspetor de polícia que me recebeu estava bem tranquilo, me tratou muito bem e me deixou bem à vontade.”
Um caso de política
“Ele próprio me disse: ‘o caso de vocês não é caso de polícia, é caso de política. Até o governador já ligou para cá querendo saber que processo é esse que envolve o Silvio Tendler.’ Então, creio que eles se acalmaram depois da repercussão à intimação do Tendler. Porque, segundo o inspetor que me interrogou, depois que o processo dele (do Tendler) chegou à delegacia, até o Comando Militar do Leste, militares da ativa, passaram a acompanhar o caso. E houve uma repercussão nacional.”
“Nós recebemos muitas ameaças e alguém, não sei quem, mandou um e-mail para o senador Eduardo Suplicy falando sobre essas ameaças. O senador enviou um ofício para o ministro da Justiça. E o ministro abriu um processo na Polícia Federal em proteção à gente. Este processo foi anexado ao nosso, com parecer do ministro e do senador Suplicy em defesa da gente. Então, o próprio inspetor me disse: ‘O caso de vocês é muito preocupante. Isso deu uma merda em Brasília, estão fazendo reuniões e acho que isso vai ser arquivado”.
“Constrangimento ilegal”
O Clube Militar processa por “constrangimento ilegal”, mas, segundo o advogado de Felipe, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, uma instituição não pode processar ninguém por “constrangimento ilegal”. Só quem pode se sentir “constrangida” é uma pessoa física. Segundo Felipe, o advogado acredita que “o processo foi feito para aterrorizar, porque juridicamente eles não vão conseguir nada”. “O patrimônio do Clube não foi depredado, a instituição não foi invadida. Os militares puderam entrar e sair livremente. Alguns alegam que (o protesto) os atrapalhou, mas o evento ocorreu tranquilamente. Eles ficaram lá tomando o seu coquetelzinho e chamando de ‘Revolução de 64’…”
Ao que tudo indica, o “coquetelzinho” pode se repetir em 2013, quando o golpe completará 49 anos. “Há depoimentos dos militares, que foram depor como vítimas, em que eles dizem que farão de novo a comemoração e que neste ano o Comando Militar do Leste fará a segurança do Clube Militar. A gente vai contestar isso na justiça. Porque a Dilma proibiu a comemoração. Se a Dilma proibiu, os militares da ativa não podem se meter nisso. Só os reformados”.
A união da esquerda
Para Garcez, o protesto de 29 de Março do ano passado “superou as expectativas em todos os sentidos. Até na participação heterogênea. Participaram desde o PSTU e anarquistas às alas mais de direita da esquerda, alas mais conservadoras. Eu milito no movimento estudantil, conheço muita gente da política e vi lá pessoas de vários partidos: PT, PDT, PCdoB, PSOL, PSTU… Gente que não milita dentro de partido, mas milita dentro de ONG, que também tava lá… Todo mundo misturado. Tinha umas 400 pessoas, mas havia uma diferença para outros protestos: eram 400 militantes, 400 pessoas que tinham algum envolvimento com a causa, algum histórico de luta. Então, era um clima diferente. Você via gente que nunca tinha se unido para nada. A esquerda estava unida ali.”
400 é um número que hoje impressiona para manifestações no Brasil, mas na América Latina e Europa é comum ver centenas de milhares e até mais de um milhão de pessoas nas ruas. Por que no Brasil é diferente? Para Garcez, “há uma alienação muito grande da juventude e isso tem a ver com a melhoria do poder de compra. Eu faço o raciocínio de que quando o país teoricamente melhora a juventude se aliena. O que acontece nos países da América Latina é que os países são menores, a população é menor.” Além disso, Felipe lembra que as ditaduras de Argentina e Chile foram “derrubadas”. “Aqui foi feita uma concessão. Aqui é meio mormaço, há sempre um acordão. Daí que a gente vive um refluxo no movimento como um todo. Mas eu acho que, desde 2009, a coisa está mudando. Eu tenho visto cada vez mais o movimento aumentar.”
“Praça de guerra”
Garcez considera que aquele evento “abriu a praça de guerra”, abrindo caminho para outros ‘escrachos’ e ‘esculachos’ que viriam depois. “A Comissão da Verdade foi um super avanço, mas o problema é que ela precisava ter caráter deliberativo. Ela não pode incriminar ninguém, é como se fosse um estudo para levantar documentos. Ela precisava poder intimar e processar. Porque tem muito militar que assume que matou, torturou, e a justiça não faz nada. Eu defendo julgamento e prisão, caso condenados. Porque a ditadura não legalizou a tortura. Nunca houve tortura legalizada no Brasil. Mesmo durante aquele período, torturar era ilegal.”
“Como é hoje a ação da polícia nas favelas. Mas tem os ‘autos de resistência’, aí ninguém é condenado. E, se não condenarmos os da ditadura, o recado que a gente está dando é: façam ditadura, deem golpe e torturem que vocês vão ser reformados e ter pomposas aposentadorias até o fim das suas vidas. Isso está errado! Claro que há exceções, há militares que lutaram contra o golpe e, por isso, foram cassados e presos. Mas as novas gerações que entram para o Exército ainda são treinadas contra a ‘ameaça vermelha’, contra o inimigo comunista. Isso está errado! O Exército tem que defender a Pátria e não ser contra um regime político. Eles têm uma educação arcaica.”
“O MST vindo para a cidade”
Para Garcez, “o governo é muito recuado ainda (na luta pelo esclarecimento dos crimes da ditadura), mas é muito mais avançado do que a gente já foi um dia. A partir dela (da Comissão da Verdade), os militares foram para a mídia dizer que é ‘revanchismo’ e dizem que os crimes da esquerda também têm que ser investigado. Mas não têm! Porque não é a mesma relação. O que precisa ser investigados são os crimes de Estado. Porque a esquerda estava combatendo uma ilegalidade, então não houve crime, houve resistência. Vamos investigar resistência? Eu acho que não. Então, começou-se a criar um clima de enfrentamento. Aquele ato não inicia, ele é o ápice do enfrentamento. Deixou marcas duras.”
O Levante Popular da Juventude foi recentemente condecorado pelo Governo Federal com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos por promover protestos em frente às residências e locais de trabalho de pessoas acusadas de terem sido torturadoras durante a ditadura. O Levante, segundo nos conta Felipe, “é um movimento social criado pelo MST, é o MST vindo para a cidade”. Mas, para ele, os chamados ‘escrachos’, que têm ocorrido no Brasil todo, “ultrapassaram a barreira do próprio Levante e se tornaram uma ferramenta de combate da esquerda.”
“Escrachos”
Garcez já participou de diversos “escrachos”. Por exemplo, em frente ao prédio do Museu da Polícia, próximo à 5ª DP, no Centro do Rio. Ali funcionava o antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). A Polícia Civil reivindica o prédio para uso comercial, enquanto os movimentos sociais querem fazer ali um memorial da ditadura. Garcez conta que “está também nessa luta.”
Além disso, revela ter participado de um ‘escracho’ em Niterói direcionado ao Coronel (Alberto) Fajardo, do Exército. O ‘escracho’ foi em dezembro do ano passado e, nesse dia, houve escrachos no Brasil inteiro. “No Rio, ‘pegaram’ o Curió (major acusado de crimes na guerrilha do Araguaia)”, relata Garcez que diz estar afastado desse tipo de atividade por proteção. “Na verdade, o meu grupo político optou por me colocar ‘na geladeira’, alegando que estou visado e posso estar sendo vigiado.”
Seguidos de perto
A suspeita de estar sendo vigiado tem fundamento. No site “A verdade sufocada”, mantido pelo coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que é declarado pela Justiça como torturador, foram publicadas fichas com informações de Felipe e de outros manifestantes que participaram do ato no Clube Militar. Mas, segundo o jovem, “foi feito um dossiê ainda mais detalhado. O inspetor que me interrogou disse até que deve ser aberto um processo para averiguar como eles têm acesso a essas informações. Eu trabalhei no Circo Voador, mas não tinha carteira assinada, não há registro. E eles sabem. Eles descobriram coisas minuciosas como o local onde um dos manifestantes trabalhou em Israel. Nem ele lembrava. Chega a ser assustador.”
Apesar do engajamento na causa, Garcez tem uma relação longínqua com a ditadura. “A minha mãe conta a história do meu tio-avô, que era do Partidão (PCB), que ele se escondia na casa do meu avô, pulava janela, mas nada muito próximo. A minha ligação com esse tema é a militância política. Desde os meus 14 anos. Desde que eu comecei a organizar o grêmio da escola onde eu estudava em Nova Iguaçu, Escola Estadual Mestre Hiran, ligada à Congregação Maçônica. Então, naquela época, eu já militava.” Depois disso, estudou no CEFET e foi fazer faculdade no Instituto Federal do Rio de Janeiro. Produção Cultural. Agora, passou para a UFF, também para produção cultural.
Militância política
Foi Secretário-geral da União Estadual dos Estudantes. Já se candidatou a cargos dentro do movimento social, mas se candidatar dentro da política partidária diz não ter vontade. “Porque eu entendo que da forma que a gente da esquerda faz política, a pessoa se entrega. É um missionário quase. E eu não sei se eu tenho essa disposição de dar a minha vida para ser candidato.”
“A minha vida é a política. Vivo disso, trabalho disso, participo disso, mas eu só seria candidato se o meu grupo político me obrigasse a isso. Porque eu entendo que o candidato é o melhor que há para se oferecer. Se algum dia, eu for a melhor coisa do meu grupo para ser candidato eu serei. Mas não tenho vontade pessoal. É uma entrega muito grande.”
Corrupção
“A sociedade é corrupta. Então, em todos os níveis do nosso sistema, em todos os poderes, você vai ter algum nível de corrupção. O problema é que a política hoje é muito carreirista. Eu falei que, para mim, a política é uma entrega, mas isso é para quem é realmente de esquerda. Porque, para quem faz política como negócio, a política é um balcão. E, para combater essa galera que faz política como balcão, você tem que se entregar.”
“Eu acho que a maioria das pessoas que hoje exercem cargos públicos não conseguem mais entender a função social. A pessoa acha que o cargo é dela. Há uma correlação de forças muito grande do empresariado com os políticos. É a força do poder econômico. Por isso que a gente luta por financiamento público de campanha.”
Ana Helena Tavares, editora do site “Quem tem medo da democracia?”segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Humanidade...Hum...!
foto daniel de andrade simões
Faleceu hoje pela madrugada o companheiro Bira Gordo.
Aumentou absurdamente o nível de perdas em todo este ano e início de 2013.
Ruioque
Dani Baixim
Faleceu hoje pela madrugada o companheiro Bira Gordo.
Aumentou absurdamente o nível de perdas em todo este ano e início de 2013.
Ruioque
Que pena, nosso querido companheiro, o Xaxá da esquerda faleceu. Travou várias batalhas, venceu algumas, não fez nenhum prisioneiro, muito menos escravos. São muitos que estão à sua espera. Ubiratan Castro de Araújo, foi quem me encaminhou para clandestinidade como Reginaldo Faria Leite. Ele agora "viaja na estrela azul" diria o poeta e jornalista Luiz Carlos Maia Bittencourt.
Daniel
Em 3 de janeiro de 2013 12:17, Rui Patterson <ruipatterson@terra.com.br> escreveu
Soube ao abrir o jornal hj na internet. Lamento. Lembro dele hospedado em meu apê no RJ (Daniel e Luiz gozando da cara dele - unhas dos pés pintadas). Lembro dele presidente do DA ed História (nós colegas). Lembro dos almoços na casa da mãe dele. E lembro da movimentação para fazermos Daniel se identificar. Beijos
Lucia Bittencourt
Lucia Bittencourt
Desse jeito não posso sequer enviar os capítulos do esperado livro "A saga do Baixim no Território Liberado de Rirreal", em preparação a quatro mãos pelo grande escritor Rui Verissimo Drummond Gaspari de Assis Heitor Coni de Andrade e seu fiel parceiro Daniel Agualusa Pessoa de Queiroz Couto, com tanta baixaria acontecendo.
Na segunda passada almocei com Emiliano e a irmã Renata, que nos ciceroneou em Florença para o documentário sobre Renzo, e ela nos informou que Renzo está com cancer de pâncreas e tem entre 3 e 6 meses de vida. Bira se fué, como diria Fidel, quase indo acompanhado por Chávez, e agora faleceu ontem a Dona Iaiá, mãe dos Mamutes e por adoção sentimental e ideológica de todos os que estiveram presos na Bahia.
Tá chegando muito perto e rapidamente de nós, velho Dani.
Ruioque Medroso de Seus Cavalos.
Na segunda passada almocei com Emiliano e a irmã Renata, que nos ciceroneou em Florença para o documentário sobre Renzo, e ela nos informou que Renzo está com cancer de pâncreas e tem entre 3 e 6 meses de vida. Bira se fué, como diria Fidel, quase indo acompanhado por Chávez, e agora faleceu ontem a Dona Iaiá, mãe dos Mamutes e por adoção sentimental e ideológica de todos os que estiveram presos na Bahia.
Tá chegando muito perto e rapidamente de nós, velho Dani.
Ruioque Medroso de Seus Cavalos.
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Rui Verissimo,
Fique tranquilo, ela não vai nos levar, sabemos todos os disfarces. A gente não pretende se apoderar do trono do diabo. Para o céu não quero ir, apesar da minha santa passagem nessa terra. O inferno é mais divertido, a esculhambação reina e são muitas as vagas de assistentes.
Falando do Bira, eu e Luiz Carlos Maia Bittencourt, pintamos de vermelho as unhas dos pés dele, quando dormia de porre no Rio de Janeiro. Isso foi lembrado pela Lucia Bittencourt. Ele acordou, ficou meio chateado mas terminou adotando por uns dias a nova fase ...
abraços,
daniel
Em 14 de janeiro de 2013 12:41, Rui Patterson <paterson@terra.com.br
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
O Último Poema - Mário Quintana
Henfil e Mário Quintana - foto daniel de andrade simões
Enquanto me davam a extrema-unção, Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar
Pensando sempre noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
- segredo da poesia –
E enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuavam andando,
Até hoje
Enquanto me davam a extrema-unção, Eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar
Pensando sempre noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa
- segredo da poesia –
E enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuavam andando,
Até hoje
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Bira, nosso mestre
Ubiratan Castro de Araújo entre amigas e amigo em Paris (1975) - foto daniel de andrade simões
Bira, nosso mestre por
Bira, nosso mestre por
Emiliano José, jornalista, escritor - emiljose@uol.com.br
Quando a barra pesava, quando algum problema o atormentava, Bira punha-se a cantarolar como a se convencer de que os orixás pudessem socorrê-lo ou simplesmente como uma maneira de afastar os maus olhados e buscar socorro na poesia, que ela sempre ajuda – quanto mais quando a alma não é pequena, e a dele era do tamanho do mundo. Vai meu irmão pega esse avião você tem razão de correr assim desse frio mas beija o meu Rio de Janeiro antes que algum aventureiro lance mão pede perdão pela duração dessa temporada... O Samba de Orly era o seu refúgio, seu amparo, seu conforto.
Vai, meu irmão, vai nosso querido irmão, amigo, companheiro, mas não diga nada que nos viu chorando. Tenha certeza de que nessas lágrimas há um tanto de alegria também. Que estranho dizer isso na hora da morte, não¿ Alegria por sua extraordinária existência, por essa vida sementeira, por essa vida mestra – o mestre que sempre ensinou sem parecer que o fazia, o mestre que conversava alegremente, compartilhando sua erudição como quem contasse histórias à beira da fogueira em noite de lua cheia. O mestre da história, o professor da vida. Vai, meu irmão, e se puder me mande uma notícia boa. Saiba: você deixa saudades eternas.
Você se lembra menino no Central já se metendo a besta, falando em revolução, nossa musa¿ Lembra de você na Católica, já ligado a Dissidência, assim em maiúsculo, um grupo que se desvinculara do velho Partidão querendo fazer a luta armada¿ Lembra de Sarno, de Jurema, de Rui, todos presentes na sua despedida, amigos e companheiros desde sempre¿ Lembra do dia em que preparou diligentemente a carteira de identidade falsa para Daniel de Andrade Simões como Reginaldo Faria Leite, para que ele se picasse, e escapasse definitivamente das garras da repressão¿ Lembra-se de sua opção pelo MR-8¿ Advogado ao lado de Ronilda¿ Nõs não esqueceremos sua dedicada luta contra a ditadura militar.
Vai, meu irmão, vê como é que anda aquela vida à toa, mas não diga nada que me viu chorando, não, não diga. Você tinha consciência desde cedo que negro no Brasil tem que lutar sobrado, e estudou que estudou, e foi buscar forças com os orixás, com seu povo, e por ele se dedicou com todas as energias de sua alma, compartilhando tudo que aprendeu, mestre, doutor pela Sorbonne, e sempre aprendendo com os negros e negras da Bahia, que mestre que é mestre nunca se esquece de que é aluno. Você cotidianamente esforçou-se para não ser para não ser o historiador clássico – vampiro do sangue dos mortos. Quis a vida como parceira, em todos os instantes de sua existência.
Vai, meu irmão, e conte sempre que quando você viu a estrela brilhar, compartilhou dela. Mergulhou no PT, entusiasmou-se com a lei que, tornou obrigatório o ensino da história dos negros do Brasil, coisas do Lula. Esteve nos governos de Lula e de Wagner, com orgulho e destemor. Nunca vacilou nas crises, botava a cara pra bater, enfrentava qualquer debate, entusiasta da democracia e da luta contra a desigualdade que, claro, incluía os negros os mais penalizados. Você gostava, meu irmão, de lembrar-se de Amílcar Cabral, que falava da necessidade de pensar com a sua própria cabeça, a partir de suas próprias experiências. E foi o que você fez, vida inteira, para regozijo de todos nós, que iremos beber para sempre na fonte de sua sabedoria.
Vai, meu irmão, e o guardaremos aqui entre nós. Que você foi sempre, sobretudo, um homem de pensamento. João José Reis afirma com razão ser difícil enquadrá-lo como especialista de um algum assunto. Um intelectual humanista é como prefere chamá-lo, corretamente. Um intelectual que sempre se colocava na defesa dos interesses maiores do nosso povo, das classes trabalhadoras, um intelectual que soube sempre do valor da política e que sempre a defendeu com ardor – a política como arma fundamental para tornar a vida melhor para todos. Vai, meu irmão, pega esse avião, que aqui tentaremos ser dignos de tudo que você nos deixou. Leve o calor do nosso abraço, professor Ubiratan Castro de Araújo. Você nos deixou o recado de que a vida é bela, e nós seguiremos em frente, cultivando e renovando os idéias que semeou. Vai, meu irmão...
Publicado no jornal A Tarde-Bahia, em 14-01-2013.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Mano de Caetano Veloso
Mano Caetano - foto daniel de andrade simões
Morreu o Fernando Couto, pai do Mia Couto
Pena. Mia Couto havia nos dito que a idade o havia adoecido. Foi para mim um amigo de esculhambação. Quando a gente falava do "há de vir, é esperar camarada ..." POR MUITAS VEZES nos divertimos com a porra da burocracia dos camaradas da FRELIMO. "Coisa" própria das mudanças. SEMPRE que o encontrava ele provocava minha "brasilidade". EU FICAVA na dúvida se o seu constante sorriso, provinha da sua arcada dentária proeminente, ou, se era a minha cara com nariz torto que ele achava engraçado...
Foi um bom amigo dos tempos moçambicanos. Foi um jornalista que não engolia sem protesto as mudanças revolucionárias. Era um autêntico português moçambicano. Cabra bom, um querido parceiro.
As mortes de amigos são tantas ultimamente que até me parece bom morrer.
A fila tem andado, tô saindo dela.
daniel de andrade simões
domingo, 6 de janeiro de 2013
Ubiratan Castro de Araújo por Rui Patterson
COISAS QUE SABEMOS SOBRE UBIRATAN DE CASTRO ARAÚJO, O BIRA GORDO
Integrou uma das dissidências do Partido Comunista Brasileiro na Bahia, atuando no setor estudantil e de logística com Chantal e Marie Hélène Russi, Jurema Valença, Israel Pinheiro e Carlos Sarno.
Quando presos, os militantes da Dissidência jamais revelaram a verdadeira identidade de Bira Gordo, que escapou incólume da prisão, nunca do monitoramento e das perseguições pelos órgãos de segurança.
Liberado da prisão, Daniel de Andrade Simões recebeu de Bira Gordo uma carteira de identidade falsa em nome de Reginaldo Faria Leite, com a com a qual viajou para o Paraguai, Chile, França e norte da Europa, fixando-se em Moçambique como fotógrafo oficial do presidente Samora Machel.
Bira Gordo, faleceu dia 3.1.13 e é com imenso orgulho que o incorporamos ao nosso pequeno e valoroso grupo de militantes da esquerda armada, como registrei em meu livro Quem Samba Fica - Memórias de Um Ex-Guerrilheiro.
Há muitos anos (1973), em plena ditadura militar no Brasil, Gilberto Gil e Chico Buarque participaram em duo num concerto em que seria suposto cantarem “Cálice”, uma canção escrita pelos dois expressamente para essa ocasião.
Previamente ouvida pela censura, a canção foi de imediato proibida.
Para encurtar a estória... os dois, contra as ordens recebidas, acabaram a cantá-la, em palco, apenas com a letra tartamudeada, entrecortada repetidamente pela palavra “cálice”, que faz realmente parte da letra... mas que na pronúncia brasileira resultou num provocador “Cale-se!”, cantado até que a organização lhes foi desligando os microfones um a um.
Sabemos bem que ainda não estamos aí... e, pelo menos alguns de nós, sabem bem qual o sabor daquele “vinho tinto de sangue” de que fala (realmente) a canção. Felizmente, sabemos também que os soldados mais dificilmente são apanhados a dormir, são aqueles que montam sentinelas e estão de prevenção e alerta.
Extraído do blog O CANTINGUEIRO
“Cálice” (versão censurada) – Chico Buarque e Gilberto Gil
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Mário Quintana e o Ano Novo
foto daniel de andrade simões
Lá bem no
alto do décimo segundo andar do ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas buzinas
Todos os tambores
Todos os reco-recos tocarem:
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada – outra vez criança
E em torno dela indagará o povo:
- Como é o teu nome, meninazinha dos olhos verdes?
E ela lhes dirá
( É preciso dizer-lhes tudo de novo )
Ela lhes dirá bem alto, para que não se esqueçam:
- O meu nome é ES – PE – RAN – ÇA …
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas buzinas
Todos os tambores
Todos os reco-recos tocarem:
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada – outra vez criança
E em torno dela indagará o povo:
- Como é o teu nome, meninazinha dos olhos verdes?
E ela lhes dirá
( É preciso dizer-lhes tudo de novo )
Ela lhes dirá bem alto, para que não se esqueçam:
- O meu nome é ES – PE – RAN – ÇA …