quarta-feira, 6 de junho de 2012

José de Sousa SARAMAGO Vive




Lisboa Portugal - fotos daniel de andrade simões

Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br

18 de junho, dois anos que Saramago partiu e para sempre ficou entre nós. São cerca de trinta obras, entre romances, poesias, ensaios, memórias e teatro, publicadas ao longo de seis décadas. Eterna será a lembrança de um defensor das mais diversas causas sociais, de um homem que viveu o seu tempo usando com maestria a arma que lhe coube e por talento possuía: a palavra. Escritor português, um dos maiores nomes da literatura contemporânea, responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa, criador de um dos universos literários mais sólidos do século 20. Saramago é considerado "um dos últimos titãs de um gênero literário que se está a desvanecer". Vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1998 - na justificativa da premiação, a academia afirmou que ele criou uma obra em que, "mediante parábolas sustentadas com imaginação, compaixão e ironia, nos permite captar uma realidade fugitiva". Já havia ganho em 1995 o prêmio Camões, a mais importante condecoração da língua portuguesa.

Sua atuação política transcendeu universos, fronteiras, culturas, tradições, convicções de todas as naturezas. Uniu a atividade de escritor com a de militante. Desafiando àqueles que proclamaram o fim da história e o descrédito em relação à alternativa socialista pós-queda do Muro de Berlim, afirmou, em 2008, que, “Marx nunca teve tanta razão como hoje”. Causou desconforto em setores do movimento internacional dos trabalhadores, ao questionar a atuação sindical: “Consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização econômica”. Não poupou de constrangimentos os partidos políticos, “os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo atual, este mundo da injustiça globalizada.”


Mereceu aplausos o corajoso discurso de desconstrução da concepção do modelo de democracia vigente, ao cobrar um debate mundial sobre o tema, sobre “aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia” e as causas da sua decadência: “[no direito de voto] ... a possibilidade de ação democrática começa e acaba aí”. Denunciou que, “todos sabemos que é assim, contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos a falar de democracia como se tratasse de algo vivo e atuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E assim é que estamos vivendo”.

FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique

Levantou a voz contra as injustiças, a religião constituída, os grandes poderes econômicos, que ele via como doenças de seu tempo. Posicionou-se sobre conflitos políticos, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, sobre os seres humanos que a compõem, “um por um e todos juntos”.
Lançando mão de aguçado senso crítico, azeitado com sensibilidade poética, chamou à atenção para o fato de falarmos muito dos direitos humanos e deixarmos de falar dos deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos outros, sobretudo. Criticou o egoísmo, o comodismo que contribuem para só vermos no mundo o que é susceptível de servir aos nossos interesses. “É essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido no quadro de existência de uma espécie que se diz racional.” Enfatizou ser preciso haver um sentimento de responsabilidade coletiva, segundo o qual cada um de nós será responsável por todos os outros. “Sem memória não existimos, sem responsabilidades talvez não mereçamos existir. A prioridade absoluta tem de ser o ser humano. Acima dessa não reconheço nenhuma outra prioridade”.
Saramago não perdeu a capacidade de indignar-se nem a de enternecer-se. Brigou pelo direito à felicidade de nós humanos.





2 comentários:

  1. O LAZER É ÓPTIMO, O PIOR É QUANDO FALTA O SUBSÍDIO DE FÉRIAS.
    Há pouco na SIC Notícias foi dito que não houve plágio no livro «Equador».
    Miguel Sousa Tavares copiou frases inteiras do livro «Cette nuit la liberté» para o livro «Equador». No blog www.anticolonial21.blogspot,com estão provas irrefutáveis deste copianço.
    MST levou a julgamento os primeiros bloguistas que denunciaram o plágio e perdeu no Tribunal. Mais, a sentença, além de absolver os que disseram a verdade, acrescentou que os leitores deviam ler os dois livros e comparar.
    MST é um «moralista» contra os valores da Esquerda e da honestidade. O veredicto do Tribunal foi proibido de ser divulgado pelas Censuras da RTP, da SIC e da TVI, assim como dos principais jornais e rádios.
    Espero que não Censure este comentário, porque também está a ser censurado em alguns blogs, alguns dos quais publicam posts contra a Censura!

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  2. Recordo que o camarada Saramago foi militante activo do Partido Comunista Português até ao final dos seus dias.

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