Estamos todos morrendo, Saitica. Sem o justo respeito histórico.Tô morrendo. Atacada e atacando.
- Ele foi um dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, que aparecem em foto histórica
Germano Oliveira (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 2/05/13 - 18h48
Atualizado: 2/05/13 - 20h12
José Ibrahim, em destaque na foto histórica, e em imagem mais recente Divulgação / Arquivo O Globo
SÃO PAULO - A histórica fotografia dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, quando embarcavam para o exterior a bordo de um avião Hércules 130 ds FAB, perdeu nesta quinta-feira um dos seus integrantes, o sindicalista José Ibrahim, que na imagem aparece ao lado do ex-ministro José Dirceu. Ibrahim, de 66 anos, teria morrido de infarto, segundo as primeiras informações, enquanto dormia em seu apartamento no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Ele foi um dos principais sindicalistas brasileiros, internacionalmente conhecido por ter liderado, em 1968, uma das maiores greves de metalúrgicos contra o regime militar, antes mesmo do surgimento de Luiz Inácio Lula da Silva, que só começou a liderar paralisações no final da década de 1970.
O ano de 1968 foi marcado por grandes manifestações por liberdade em vários pontos do mundo, como a Primavera de Praga e a revolta dos estudantes em Paris. No Brasil, a luta era contra a ditadura militar instalada em 1964. O jovem José Ibrahim, então com 21 anos, era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, que, a exemplo dos metalúrgicos de Contagem (MG), lutava por melhores salários da categoria. Desde 1967, Osasco despontava como o polo central do movimento sindical em oposição ao regime militar, e Ibrahim já se destacava, embora ainda muito jovem. Mas foi em julho de 1968 que os sindicalistas da cidade marcaram a história brasileira naqueles difíceis anos de chumbo.
No dia 16 de julho, Ibrahim e sua turma resolveram parar todas as metalúrgicas de Osasco e, nesse dia, ocuparam as instalações da Cobrasma, um das mais importantes fábricas de São Paulo. Depois dela, paralisaram também as atividades de grandes metalúrgicas, como a Barreto Keller, Braseixos, Granada, Lonaflex e Brown Boveri.
- Eu comecei a trabalhar na Cobrasma ainda menor, com 14 anos, em 1961, mas já entrei participando porque eu era politizado, era secundarista e já tinha um certo nível de conhecimento, de literatura marxista e de fazer política - disse Ibrahim ao blog de José Dirceu, em julho de 2008.
Preocupado com a crescente onda grevista no país, os militares resolveram intervir no sindicato dirigido por Ibrahim, ocuparam todas as fábricas, cercaram entradas e saídas da cidade e o Ministério do Trabalho decretou a ilegalidade do movimento. Por ordem do então governador de São Paulo, Abreu Sodré, os trabalhadores foram reprimidos e 60 líderes da greve foram levados para o Dops paulista, onde a tortura de presos era rotina. Toda a diretoria foi cassada e os grevistas, afastados. Ibrahim foi demitido sem receber qualquer direito trabalhista.
Começou aí sua vida na clandestinidade. Optou por entrar para a luta armada, por meio da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Acabou preso e foi barbaramente torturado. No dia 6 de setembro de 1969, Ibrahim era um dos 15 presos políticos brasileiros que foram trocados pelo embaixador Elbrick. Além de Ibrahim e José Dirceu, estavam no avião Hércules 130 da FAB, rumo ao exílio no México, militantes de esquerda como Vladimir Palmeira, Ricardo Zaratini, Flávio Tavares, Ivens Marchetti, Ricardo Villas e Gregório Bezerra, entre outros. Antes de embarcarem para o México, no Aeroporto do Galeão, fizeram a histórica foto, que até hoje ilustra os principais livros da esquerda brasileira sobre a história da luta contra a ditadura militar.
- Foi uma lista ecumênica - disse o jornalista Franklin Martins, um dos articuladores do sequestro do embaixador americano, algum tempo depois, ao se lembrar de como foi montada a lista com os nomes dos presos políticos brasileiros, pertencentes ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), da Ação Libertadora Nacional (ALN), da VPR de Ibrahim, da dissidência de Niterói do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que optaram pela luta armada contra os militares.
Exilado, Ibrahim morou dez anos no exterior, no Chile, Panamá, México e França. O sindicalista voltou ao Brasil em 1979, com a Lei da Anistia. Em 1980, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), ao lado de Lula, mas em 1986 rompeu com o partido e se filiou ao Partido Verde (PV). Recentemente, participou da fundação da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Como dirigente sindical, vinha participando da Comissão Nacional da Verdade, com depoimentos sobre a ditadura militar.
Nos últimos anos, morou com a família no apartamento da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Como bom corintiano, nesta quarta-feira assistiu ao jogo do Corinthians contra o Boca Juniores, no qual os argentinos ganharam por 1 a 0, ao lado do filho Gabriel, de 16 anos. Ao final do jogo, foi dormir. Nesta quinta-feira cedo, a mulher Helena saiu para trabalhar e o filho Gabriel foi para a escola. Quando o jovem retornou para casa, por volta das 13h, viu que o pai estava morto na cama no quarto do casal. A autopsia ainda estava sendo feita na noite desta quinta-feira, mas os amigos acreditam que foi morto por um infarto no coração. O corpo será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O sepultamento deve acontecer às 17h desta sexta-feira no Cemitério Bela Vista, em Osasco.
O ano de 1968 foi marcado por grandes manifestações por liberdade em vários pontos do mundo, como a Primavera de Praga e a revolta dos estudantes em Paris. No Brasil, a luta era contra a ditadura militar instalada em 1964. O jovem José Ibrahim, então com 21 anos, era diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, que, a exemplo dos metalúrgicos de Contagem (MG), lutava por melhores salários da categoria. Desde 1967, Osasco despontava como o polo central do movimento sindical em oposição ao regime militar, e Ibrahim já se destacava, embora ainda muito jovem. Mas foi em julho de 1968 que os sindicalistas da cidade marcaram a história brasileira naqueles difíceis anos de chumbo.
No dia 16 de julho, Ibrahim e sua turma resolveram parar todas as metalúrgicas de Osasco e, nesse dia, ocuparam as instalações da Cobrasma, um das mais importantes fábricas de São Paulo. Depois dela, paralisaram também as atividades de grandes metalúrgicas, como a Barreto Keller, Braseixos, Granada, Lonaflex e Brown Boveri.
- Eu comecei a trabalhar na Cobrasma ainda menor, com 14 anos, em 1961, mas já entrei participando porque eu era politizado, era secundarista e já tinha um certo nível de conhecimento, de literatura marxista e de fazer política - disse Ibrahim ao blog de José Dirceu, em julho de 2008.
Preocupado com a crescente onda grevista no país, os militares resolveram intervir no sindicato dirigido por Ibrahim, ocuparam todas as fábricas, cercaram entradas e saídas da cidade e o Ministério do Trabalho decretou a ilegalidade do movimento. Por ordem do então governador de São Paulo, Abreu Sodré, os trabalhadores foram reprimidos e 60 líderes da greve foram levados para o Dops paulista, onde a tortura de presos era rotina. Toda a diretoria foi cassada e os grevistas, afastados. Ibrahim foi demitido sem receber qualquer direito trabalhista.
Começou aí sua vida na clandestinidade. Optou por entrar para a luta armada, por meio da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Acabou preso e foi barbaramente torturado. No dia 6 de setembro de 1969, Ibrahim era um dos 15 presos políticos brasileiros que foram trocados pelo embaixador Elbrick. Além de Ibrahim e José Dirceu, estavam no avião Hércules 130 da FAB, rumo ao exílio no México, militantes de esquerda como Vladimir Palmeira, Ricardo Zaratini, Flávio Tavares, Ivens Marchetti, Ricardo Villas e Gregório Bezerra, entre outros. Antes de embarcarem para o México, no Aeroporto do Galeão, fizeram a histórica foto, que até hoje ilustra os principais livros da esquerda brasileira sobre a história da luta contra a ditadura militar.
- Foi uma lista ecumênica - disse o jornalista Franklin Martins, um dos articuladores do sequestro do embaixador americano, algum tempo depois, ao se lembrar de como foi montada a lista com os nomes dos presos políticos brasileiros, pertencentes ao Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), da Ação Libertadora Nacional (ALN), da VPR de Ibrahim, da dissidência de Niterói do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que optaram pela luta armada contra os militares.
Exilado, Ibrahim morou dez anos no exterior, no Chile, Panamá, México e França. O sindicalista voltou ao Brasil em 1979, com a Lei da Anistia. Em 1980, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), ao lado de Lula, mas em 1986 rompeu com o partido e se filiou ao Partido Verde (PV). Recentemente, participou da fundação da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Como dirigente sindical, vinha participando da Comissão Nacional da Verdade, com depoimentos sobre a ditadura militar.
Nos últimos anos, morou com a família no apartamento da rua Teodoro Sampaio, em Pinheiros. Como bom corintiano, nesta quarta-feira assistiu ao jogo do Corinthians contra o Boca Juniores, no qual os argentinos ganharam por 1 a 0, ao lado do filho Gabriel, de 16 anos. Ao final do jogo, foi dormir. Nesta quinta-feira cedo, a mulher Helena saiu para trabalhar e o filho Gabriel foi para a escola. Quando o jovem retornou para casa, por volta das 13h, viu que o pai estava morto na cama no quarto do casal. A autopsia ainda estava sendo feita na noite desta quinta-feira, mas os amigos acreditam que foi morto por um infarto no coração. O corpo será velado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O sepultamento deve acontecer às 17h desta sexta-feira no Cemitério Bela Vista, em Osasco.
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