quinta-feira, 20 de março de 2014

Ditadura Militar: Uma Incômoda Memória por Tânia Miranda

                                                       fotos daniel de andrade simões

DITADURA MILITAR: UMA INCÔMODA MEMÓRIA
A ditadura deu forma extremada à violência do estado. Ao aumentar a sanha repressiva, fez crescer em grupos de esquerda a ideia de que o caminho para combatê-la seria através de ações armadas. A impossibilidade de participação institucional empurrou parte daqueles que se opunham ao regime para o caminho das armas. Eram aqueles anos em que um furacão guerrilheiro varria as Américas, em que Che Guevara saiu de Cuba, armas e sonhos na mão, pelo Congo, Bolívia, e, quando morto, passou a estar em todas as partes do mundo: nas barricadas de 1968 na França, no México, em São Paulo, no Rio de Janeiro. A morte de Che era o sinal que apontava para a falência, naquela conjuntura, dessa forma de luta. Quando a resistência se desloca para o terreno da clandestinidade, os embates se dão exatamente onde o inimigo é mais forte.


Zuenir Ventura, no antológico, 1968: o ano que não terminou, recupera a memória desses atores sociais: “Esses nossos ‘heróis’ são os jovens que cresceram deixando o cabelo e a imaginação crescerem. Eles amavam os Beatles e os Rolling Stones, protestavam ao som de Chico ou Vandré, viam Glauber e Godard, andavam com a alma incendiada de paixão revolucionária (...). Era uma juventude que se acreditava política e achava que tudo devia se submeter ao político: o amor, o sexo, a cultura, o comportamento”. A música de protesto ocupou seu espaço na luta contra a ditadura. Jovens entre 18 e 25 anos faziam a revolução tendo como armas a poesia e o violão. Chico Buarque, ao chamar a mulher amada - Benvinda -, podia estar homenageando-a, como podia estar saudando a liberdade. Cantando o amor à mulher, cantava política. No discurso amoroso, a denúncia.

Serão esses jovens terroristas? Ou serão homens e mulheres que enfrentaram a clandestinidade, a tortura, a morte brutal, resistindo à opressão? Homens e mulheres que não se dobraram à violência do Estado e arriscaram a vida em nome do que acreditavam. E para aqueles que acham que tudo não passou de uma romântica aventura, romantismo não era deformação ou vício, mas virtude plena.
Publicado no jornal A TARDE, Bahia, em 18/03/2104.

Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br

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