quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os gabolas, por Flávio Tavares - Jornalista e escritor

                                Flávio Tavares (centro) foto daniel de andrade simões

O homem que se gaba de ser “o milionário mais rico do Brasil” revelou que financia as campanhas eleitorais de dois candidatos à Presidência da República – José Serra e Dilma Rousseff. Já que um dos dois triunfará, ele se decidiu por ambos, mesmo sem ler os programas de governo de nenhum deles e sem ter interesse por isso. Oportunismo e desfaçatez?? Nada disto, “tudo em prol da democracia”, disse Eike Batista num programa de TV, dias atrás.
Não é gabolice. Ele aspira ser “o homem mais rico do planeta” e adora contar de como extraiu do fundo da terra os bilhões que tem. Sua esdrúxula visão de “prestigiar a democracia” através do dinheiro (como se tudo fosse bem de consumo, que se compra e vende) talvez escandalize sociólogos e analistas políticos, mas retrata a realidade. A eleição está cheia de iscas. O povão contenta-se com a cesta básica. Os “grandes” buscam peixe maior: para amansar o cipoal burocrático federal, a intimidade com o poder começa na campanha eleitoral!
Nosso milionário-mor, porém, financia seus candidatos com dinheiro do BNDES. Sim, pois a fortuna de Eike Batista multiplicou-se desde que se fez íntimo de Lula da Silva e obteve mais de R$ 4 bilhões em financiamentos do BNDES, a prazos tão longos, que parecem sem fim.
Dos grandes ou pequenos produtores gaúchos, quem conseguirá sequer 1% do que foi dado a Eike?
A maré da campanha eleitoral envolve a todos. O eleitorado brasileiro é quatro vezes a população da Argentina, mas nem por isto o povo se politizou. Os grandes temas desapareceram, o debate de ideias evaporou-se. Já não se exige que os candidatos exibam o passado para afiançar o futuro.
Em menos de um mês, festejaremos 21 anos do retorno à eleição presidencial direta. Em 1989 nos libertamos da última tutela que a ditadura nos havia pendurado ao pescoço, como canga em boi, e votamos pela primeira vez desde o golpe de 1964. Pouco progredimos, porém. Continuamos a votar só porque é obrigatório. Os partidos (inundados de gente inculta, sem passado e alheia às realidades profundas da vida) abrigam corruptos e aventureiros. Até ridículos, pois isso “dá voto”.

A “politização” se resume a apertar botões. A urna eletrônica fez do sufrágio um ato de manejar números e acabou com a recontagem de votos, dando margem à fraude. Quem assegura que peritos em eletrônica (desses que violam as senhas das contas na internet) não possam configurar as urnas antecipadamente, para que o voto a fulano se compute para beltrano?
Se violar o sigilo do Imposto de Renda passou a ser quase comum na Receita Federal, o que dizer da urna?
O escândalo da violação dos dados da filha de José Serra, pela Receita Federal, será indício de que começam a instaurar um “Estado policial” que exerce o poder também pela chantagem? Não creio que sua oponente Dilma Rousseff esteja implicada na trama sórdida, mas o presidente da República tinha obrigação de esclarecer tudo e punir os envolvidos, para tranquilidade geral.
Ou, no governo, até os espiões são gabolas?
     

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