quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tempo de Resistência (Dinamarca) por Leopoldo Paulino (Jaiminho)

foto daniel de andrade simões

Nos últimos dias de minha permanência em Paris, encontrei casualmente na Av. Saint Michel com o companheiro Rafael Di Falco e, ao dizer-lhe que estava de partida para a Dinamarca, passou-me o telefone de Gunna Hojaard, líder feminista dinamarquesa, que falava bem o espanhol e seguramente me prestaria sua solidariedade. Cheguei a Copenhague (natal 1972) e, de imediato, liguei para Gunna, que passou-me o endereço onde estava e me convidou para fosse encontrá-la. Tratava-se de uma reunião de entidades que Gunna dirigia e conversei com ela e todo seu grupo, expliquei nossa situação e falei dos crimes praticados pela ditadura brasileira e da luta para derrubá-la.

Marcamos uma conversa para o dia seguinte com ela e algumas pessoas da esquerda dinamarquesa. Todos sugeriram que eu solicitasse formalmente asilo político no país.
Pela legislação de lá, enquanto durasse o processo, o governo Dinamarquês teria de arcar com nossa manutenção para minha família, eu, Beti e Tico.
...ainda no mesmo dia apresentamo-nos à polícia dinamarquesa e formalizamos nosso pedido de asilo político.
De imediato, fomos colocados pelos funcionários do governo em uma hospedagem chamada Pensão Ost, onde já viviam vários refugiados, sobretudo poloneses expatriados que, iludidos pela propaganda anticomunista, iam conhecer o “paraíso” capitalista ...

Na noite de Natal de 1972, Tico já dormia e Beti e eu estávamos com ele em nosso quarto na pensão, quando à meia noite bateram à porta, ... era um polaco forte com quase dois metros visivelmente embriagado, com uma taça de champagne à mão dizendo em inglês que saudássemos a Deus.
Irritado com a presença do intruso, disse-lhe em tom forte: “Eu não acredito em Deus ! Sou comunista !”
O grandalhão tornou-se ainda mais vermelho, fechou a cara e suas mãos quase arrebentaram a taça que portava, enquanto ia se retirando de marcha-ré, deixando o quarto em que vivíamos.

Moravam no local também alguns refugiados portugueses, que desertavam do exército de seu país para não combaterem nas guerras de libertação que os povos de Angola, Moçambique e Guiné Bissau travavam contra o colonialismo de Portugal.
... no mesmo hotel, além de vários poloneses, havia alguns exilados de esquerda, como Luísa, companheira portuguesa, com sua filhinha, e Gilberto que pertencia a um grupo guerrilheiro panamenho, com sua mulher chilena e o filho Ernesto, além de um companheiro angolano, com sua mulher búlgara e seu filho Atanásio, da idade do Tico.
Poucos dias depois, Carvalho (Daniel de Andrade Simões) chegou a Copenhague. Tinhamos recebido comunicação sua da Holanda e da Alemanha e sabíamos que ele estava a caminho.
Conseguiu entrar clandestino na Dinamarca, auxiliado por uma entidade (CIMADE e OFPRA )
internacional de apoio a refugiados políticos... (segue o baile e o "amargo" caviar do exílio, diria o companheiro poeta, Wilson Barbosa Negão...)

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