sexta-feira, 30 de março de 2012

Falando de Armas e de Flores - por Tânia Miranda

Porto Alegre (slide 1981) foto daniel de andrade simões

FALANDO DE ARMAS E DE FLORES

Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br


Hoje (31.03.2012)  faz 48 anos que o Brasil foi vitimado por um golpe militar seguido de uma ditadura que durou 21 anos. Na condição de sobrevivente da resistência sou instigada a trazer para o presente a memória desse movimento.

Minas Gerais (slide) foto daniel de andrade simões

A ditadura deu forma extremada à violência do Estado. Ao aumentar a sanha repressiva, fez crescer em grupos de esquerda, a ideia de que o único caminho para combatê-la seria através de ações armadas. A impossibilidade de participação institucional empurrou parte daqueles que se opunham ao regime para o caminho exclusivo das armas. Eram aqueles anos em que um furacão guerrilheiro varria as Américas, em que Che Guevara saiu de Cuba, armas e sonhos na mão, pelo Congo, Bolívia, e quando morto passou a estar em todas as partes do mundo: nas barricadas dos estudantes no maio de 1968 na França, na Alemanha, no México, em São Paulo e no Rio de Janeiro. É um paradoxo. A morte de Che, em 1967, era o sinal que apontava para a falência, naquela conjuntura, dessa forma de luta. Parte da esquerda brasileira, ao desconsiderar esse dado, vai para o ataque de peito aberto. E quando a luta se desloca para o terreno da clandestinidade, os embates se dão exatamente onde o inimigo é mais forte. Trata-se de uma luta desigual e de uma opção que, ignorando a correlação de forças, custaria inúmeras vidas. Difícil perceber isso com os olhos da época. Mas a oposição não foi apenas armada.
 Fórum Social Mundial 2002 em Porto Alegre - foto daniel de andrade simões

Zuenir Ventura, no antológico livro, 1968: o ano que não terminou, recupera a memória desses atores sociais: “Esses nossos ‘heróis’ são os jovens que cresceram deixando o cabelo e a imaginação crescerem. Eles amavam os Beatles e os Rolling Stones, protestavam ao som de Chico ou Vandré, viam Glauber e Godard, andavam com a alma incendiada de paixão revolucionária (...). Era uma juventude que se acreditava política e achava que tudo devia se submeter ao político: o amor, o sexo, a cultura, o comportamento.” A música de protesto ocupou seu espaço na luta contra a ditadura. Jovens entre 18 e 25 anos faziam a revolução tendo como armas somente poesia e o violão. Chico Buarque ao chamar a mulher amada - Benvinda -, podia estar homenageando-a como podia estar saudando a liberdade. Cantando o amor à mulher, cantava política. No discurso amoroso, a denúncia, o protesto.

Subversivos intelectuais no Rio de Janeiro "opiando a cidade? " ... jornalista baiano Luiz Carlos Maia Bittencourt, sua companheira Lucia e mais dois do bando terrorista carioca, dois ou três ? ...

Serão esses os jovens que ainda são nomeados de perigosos terroristas? Ou serão homens e mulheres que se deram a uma causa de corpo inteiro, adotando a forma de luta que lhes pareceu mais acertada? Esses atores sociais são, na sua maioria, jovens que enfrentaram a clandestinidade, a tortura, a morte brutal, resistindo à opressão. Homens e mulheres que não se dobraram à violência do Estado e arriscaram a vida em nome do que acreditavam. E para aqueles que acham que tudo não passou de uma romântica aventura, romantismo não era deformação ou vício, mas virtude plena.



Encontro Latinoamericano "Memória, Verdade e Justiça" em Porto Alegre de 30/3 a 01/04 de 2012 no Plenarinho da Assembleia Legislativa

                                                                              foto daniel de andrade simõs

quarta-feira, 28 de março de 2012

Mudança - por Wilson Nascimento Barbosa, ex-exilado no Chile, Suécia e Moçambique

foto daniel de andrade simões

Neste tempo de mudança
sou soldado e quero rir !
Rio-me, da verdade, do fato
que fardado esteja aqui

Digo sempre ao Daniel
como eu, de prontidão
sempre de um lado a outro
com uma câmara na mão:

"Já cansei desta paródia
que regime palhaçada
pensam que sou baioneta
vão parar a madrugada ?"
(1981)

terça-feira, 27 de março de 2012

Bento XVI - Apenas insolente ... ou senil ? por Samuel-Cantigueiro.blogspot.com

                                                                                   foto daniel de andrade simões

passaram mais de 50 anos sobre um crime hediondo cometido contra o povo cubano. Foi planeado e levado a cabo pela CIA e pelo Vaticano, com o empenhamento pessoal dos padres católicos a operar em Cuba, nessa época maioritariamente de origem espanhola e franquistas. O crime ficou conhecido como “Operação Peter Pan.
A partir de um boato, apoiado num “documento” forjado, segundo o qual o governo revolucionário se prepararia para aprovar uma lei que tiraria aos pais a tutela sobre os seus filhos menores de idade, conseguiram, com o infeliz apoio de milhares de familiares, sequestrar quase quinze mil crianças, que foram enviadas (principalmente) para os EUA.
Em teoria, esse “exílio” duraria apenas até à vitória da invasão da Baía dos Porcos e a planeada liquidação da Revolução... só que, como sabemos, essa “vitória” da contra-revolução transformou-se numa humilhante derrota, tanto para os anti-revolucionários cubanos, como para o próprio governo de Kennedy. Na sequência dessa humilhação, os EUA fecharam o espaço aéreo entre os EUA e Cuba, o que resultou no “extravio” definitivo desses milhares de crianças cubanas.
Apenas algumas foram recuperadas pelas famílias, regressando a Cuba. Quase todos os outros ficaram à mercê da fome, maus tratos, trabalho escravo, gangs, droga, mortes violentas.
Lembrei-me desta negra página da História ao ler sobre as declarações do senhor Ratzinger, chefe de estado do Vaticano e da Igreja Católica Romana que, antes de rumar a Cuba, um dos destinos desta sua visita à América Latina, teve o desplante (e pouca inteligência!) de afirmar que os cubanos deviam abandonar o marxismo... porque está ultrapassado e por mais isto e aquilo e porque torna e porque deixa...
Atendendo a que, presentemente, as relações da Igreja Católica com Cuba atravessam um bom clima... este tipo de “deslize” é mais estúpido do que os pés que arrastam “sua santidade”.
Ainda no México, o outro destino da viagem, o Papa reuniu-se com vítimas do narco-tráfico e «pediu protecção para as crianças».
Fez muito bem... e fez-me também recordar uma certeira frase de Fidel, há tempos divulgada num cartaz:
“Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana!”
Por fina ironia do destino, é exactamente o marxismo, a tal ideologia que o Papa que ver erradicada de Cuba, que, contra ventos e marés, com acertos e erros, vitórias e desaires... tem, de uma forma exemplar, protegido as crianças cubanas do destino de milhares de outras em todo o mundo, como as do México: a violência, a morte nas ruas, o abandono, a fome, a falta de cuidados de saúde, de educação...
Tenha vergonha na cara, senhor Ratzinger!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ulisses Guimarães - O grande líder político da Democracia Brasileira

foto daniel de andrade simões

Ulysses Silveira Guimarães. Foi um político e advogado brasileiro que teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela redemocratização do Brasil. Morreu em um acidente aéreo de helicóptero no litoral ao largo de Angra dos Reis, sul do estado do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Arte nas Ruas de Porto Alegre, RS Brasil

Tapumes do Araújo Viana - foto daniel de andrade simões

Faço meus versos
para o universo
desfaço a gramática
uso outra tática
escrevo até para os analfabetos
(Caramez)

terça-feira, 20 de março de 2012

Ana Amélia Lemos, jornalista na luta por eleições diretas

           Jornalista Carlos Appel, Pedro Simon e Ana Amélia Lemos (1984) Brasília - foto daniel de andrade simões

segunda-feira, 19 de março de 2012

Carmem Maria Craidy - Mulher de muitas lutas

Exílio em Paris, 1976 - foto daniel de andrade simões

Mulher de luta, ex-exilada na França e Moçambique. Professora da UFRGS. Doutora em Pedagogia. Mãe de José Daniel e Ana Craidy Simões, completa hoje setenta anos e comemora entre parentes e amigos. Vida longa, alegria e sorte para Camarada Carmem Craidy, são os votos do Saitica.

Marx Vive

                                               Revolução dos Cravos, Portugal - fotos daniel de andrade simões
Amigos
De facto é tempo de rebuscar nas prateleiras (ou na internet) as obras deste Camarada, que nos permitem compreender muitos fénómenos actuais - e os que estão para vir. E não nos assustemos: os comunistas nunca comeram crianças, como clamava aqui a propaganda colonial-capitalista, o que levou à fuga de muitos moçambicanos logo depois da independência
Luiz Clemente

Marx, mais vivo e atual do que nunca, 129 anos após sua morte
Por Atilio Boron
desde Buenos Aires, 14 de março 2012
Em um dia como hoje[14/03], há 129 anos, morria placidamente em Londres, aos 65 anos de idade, Karl Marx. Correu a sorte de todos os grandes gênios, sempre incompreendidos pela mediocridade reinante e o pensamento dominado pelo poder e pelas classes dominantes. Como Copérnico, Galileu, Servet, Darwin, Einstein e Freud, para mencionar apenas alguns poucos, foi menosprezado, perseguido, humilhado. Foi ridicularizado por anões intelectuais e burocratas acadêmicos que não chegavam a seus pés, e por políticos complacentes com os poderosos de turno, a quem causavam repugnância suas concepções revolucionárias.
A academia cuidou muito bem de fechar suas portas, e nem ele e nem seu eminente colega, Friedrich Engels, jamais habitaram os claustros universitários. E mais, Engels, que Marx disse ser “o homem mais culto da Europa”, nem sequer estudou em uma universidade. Mesmo assim, Marx e Engels produziram uma autêntica revolução copernicana nas humanidades e nas ciências sociais: depois deles, e ainda que seja difícil separar sua obra, podemos dizer que, depois de Marx, nem as humanidades, nem as ciências sociais voltariam a ser como antes. A amplitude enciclopédica de seus conhecimentos, a profundidade de seu olhar, sua impetuosa busca das evidências que confirmassem suas teorias fizeram de Marx, suas teorias e seu legado filosófico mais atuais do que nunca.
O mundo de hoje, surpreendentemente, se parece ao que ele e seu jovem amigo Engels prognosticaram em um texto assombroso: o Manifesto Comunista. Esse sórdido mundo de oligopólios de rapina, predatórios, de guerras de conquista, degradação da natureza e saque dos bens comuns, de desintegração social, de sociedades polarizadas e nações separadas por abismos de riqueza, poder e tecnologia, de plutocracias travestidas de democracia, de uniformização cultural pautada pelo american way of life, é o mundo que antecipou em todos os seus escritos.
Por isso são muitos que, já nos capitalismos desenvolvidos, se perguntam se o século 21 não será o século de Marx. Respondo a essa pergunta com um sim, sem hesitação, e já estamos vendo: as revoluções em marcha nos países árabes, as mobilizações dos indignados na Europa, a potência plebéia dos islandeses ao enfrentarem e derrotarem os banqueiros, as lutas dos gregos contra os sádicos burocratas da União Européia, do FMI e do Banco Central Europeu, o rastro de pólvora dos movimentos nascidos a partir do Occupy Wall Street, que abarcou mais de cem cidades estadunidenses, as grandes lutas da América Latina que derrotaram a ALCA e a sobrevivência dos governos de esquerda na região, começando pelo heróico exemplo cubano, dentre muitas outras mostras de que o legado do grande mestre está mais vivo do que nunca.

O caráter decisivo da acumulação capitalista, estudada como ninguém mais o fez em O Capital, era negado por todo o pensamento da burguesia e pelos governos dessa classe, que afirmavam que a história era movida pela paixão dos grandes homens, as crenças religiosas, os resultados de heróicas batalhas ou imprevistas contingências da história. Marx tirou a economia das catacumbas e não só assinalou sua centralidade como demonstrou que toda a economia é política, que nenhuma decisão econômica está livre de conotações políticas. E mais, que não há saber mais político e politizado do que a economia, rasgando as teorias dos tecnocratas de ontem e hoje que sustentam que seus planos de ajuste e suas absurdas elucubrações econométricas obedecem a meros cálculos técnicos e são politicamente neutros.
Hoje ninguém acredita seriamente nessas falácias, nem sequer os porta-vozes da direita (ainda que se abstenham de confessar). Poderia se dizer, provocando o sorriso debochado de Marx lá do além, que hoje são todos marxistas, mas à lá Monsieur Jordan, personagem de Le Bourgeois gentilhomme (O gentil homem burguês, O Burguês ridículo, dentre outras traduções já feitas da obra), de Molière, que falava em prosa sem saber. Por isso, quando estourou a nova crise geral do capitalismo, todos correram para comprar O Capital, começando pelos governantes dos capitalismos metropolitanos. É que a coisa era, e é, muito grave pra perderem tempo lendo as bobagens de Milton Friedman, Friedrich Von Hayek ou as monumentais sandices dos economistas do FMI, do Banco Mundial ou do Banco Central Europeu, tão ineptos como corruptos e que, por causa de ambas as coisas, não foram capazes de prever a crise que, tal como tsunami, está arr asando os capitalismos metropolitanos.
Por isso, por méritos próprios e vícios alheios, Marx está mais vivo do que nunca e o faro de seu pensamento ilumina de forma cada vez mais esclarecedora as tenebrosas realidades do mundo atual.
Atilio Boron é doutor em Ciência Política pela Harvard University, professor titular de Filosofia da Política da Universidade de Buenos Aires e ex-secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Tradução: Gabriel Brito, jornalista do Correio da Cidadania.

domingo, 18 de março de 2012

A Origem da Cidade de Rio Real, Sergipe - Terceiro Capítulo por Cosme Pires

Vanilda Pereira Simões, enfermeira que trabalha em Rio Real pela humanização da saúde e direitos iguais. foto daniel de andrade simões

As características da atual cidade de Rio Real até então de 1.750, eram pluralmente rurais já que ainda não havia sido criada uma povoação às margens desse Brejo Grande. Existia apenas uma aglomeração de casas de palhas, de taipas ou telhas e algumas construções de adobe, pertencentes aos senhores rurais e aos senhores de engenhos e foi daí que se deu origem a penetração dessa área, do ser humano com caráter descendentes de português da capital província da Bahia que aqui se dedicando ao cultivo da cana de açúcar também trouxeram os negros e escravos para trabalhar nessa lavoura, e esse território era também povoado pelos grupos indígenas. Então, na região leste lá no Mocambo do Rio Azul, existia a tribo dos Tupinambás, nas Areias ou Mata Verde a tribo dos Cariris e mais uma localidade chamada Mombaça os Caraíbas e em Rio Real existia outro grupo indígena, então a região era povoada. Outra cidade era Jandaíra que tinha aldeia de índios chamada Taipa Forte, Cristinápolis aqui vizinho tinha a chapada dos índios e hoje cidade de Tomar do Gerú existia a aldeia Gerú cujo cacique era chamado de Tomar, daí o nome de Tomar do Gerú.

Portanto, a ocupação desse território foi acontecendo em virtude principalmente da cultura da cana de açúcar e depois da criação de gado bovino e foi aí que se deu origem a esse aglomerado humano que foi crescendo e desenvolvendo, justamente por ser um ponto entre a rota do sertão e as praias do Oceano Atlântico aqui de Jandaíra.

Mulheres que lutam - Clara Alain (Paris 1976)

                                                                    foto daniel de andrade simões

quinta-feira, 15 de março de 2012

Os homens não gostam que as mulheres pensem em silêncio. Nascem-lhes nervosas suspeitas. Mia Couto

                                                                     foto daniel de andrade simões

segunda-feira, 12 de março de 2012

Construção das Ruínas por Carlos Eduardo Caramez

Carlos Eduardo Caramez,(esquerda) poeta, produtor e letrista - foto daniel de andrade simões

No mesmo lugar
onde você passa bem
eu passo mal
Prostrado com olhos abertos
o resto do corpo morto
nenhum sentimento
sobrevive dentro de mim
Não tenho mais forças
nem horários
nem muitos amigos vivos
muito menos como dizer adeus

domingo, 11 de março de 2012

Mulheres Que Lutam

Povo guarany na selva de pedras - Porto Alegre, RS - foto daniel de andrade simões

SARAH, Musa de Tobias Barreto Sergipe

SARAH, musa e campeã de vendas - eleita por Dr. Artur Calasans e pelo  fotógrafo daniel de andrade simões

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher - por Tânia Miranda

                                             Mães da Praça de Maio - fotos daniel de andrade simões
MULHERES NA RESISTÊNCIA À TIRANIA E À OPRESSÃO
Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, uso esse espaço dando a palavra às mulheres que fazem e fizeram a história do nosso planeta. Nova York, 8 de março de 1857, 129 operárias foram queimadas vivas dentro de uma fábrica. Seu crime: lutavam por melhores condições de trabalho, por salários equiparados aos dos homens, pela redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas e por licença maternidade.
Eleonora Annes (Nôra) artista plástica e arquiteta gaúcha
Retrocedendo na história, lembro uma dor que atravessa o tempo, a dor de Antígona, cantada na tragédia de Sófocles, que expressa à determinação de uma mulher diante da tirania. Seu crime: enterrar o irmão morto em batalha. Mito trágico, a coragem de Antígona, repetiu-se com outras mulheres ao longo dos séculos, em outras lutas de contestação e resistência. A mãe que diante de Salomão não permitiu dividir seu filho ao meio. Ifigênia, filha de Agamenon, que aceitou ser sacrificada pela causa da Grécia. Argentinas, avós e mães da Praça de Maio, protagonistas de uma comovente peregrinação em busca de suas filhas e filhos, netas e netos, exigindo esclarecimentos sobre os 30 mil desaparecidos na ditadura militar daquele país.
               Guerrilheira da Frente de Libertação Moçambicana ferida - foto daniel de andrade simões
No Brasil, se realizarmos rápida pesquisa a fim de mapear dez nomes que mais aparecem nos livros de História do Brasil, não encontraremos o de uma mulher. À exceção da princesa Isabel, tida como “libertadora” e nunca como governante, o Brasil parece ter sua trajetória construída exclusivamente por homens. A história “oficial”, narrada a partir de eventos vencedores no formato de grandes biografias nacionais, é de uma nação estritamente masculina. Nossos “heróis” têm, tradicionalmente, barba e bigode.
 No Brasil da ditadura militar, mulheres foram presas, humilhadas, torturadas, assassinadas, “desaparecidas” e enterradas como indigentes. Tiveram a alma e o corpo violados, sofreram a dor indizível de ver seus filhos e filhas – até recém nascidos – ameaçados nas salas de tortura. Sofreram o banimento, a separação das famílias, o rompimento de laços, o abandono de projetos e sonhos, o exílio interno, tornando-se clandestinas em sua própria pátria. Houve aquelas que optaram pela luta armada e, outras, ainda que sem armas, colocaram em risco as suas vidas em nome da democracia e da justiça social. Centenas estiveram em todas as frentes de luta. Muitas ainda sofrem com seqüelas físicas e psíquicas.
                                                               foto daniel de andrade simões
Hecilda Veiga, militante da Ação Popular, presa grávida de 5 meses, assim mesmo foi torturada. Para apressar as coisas, o médico, irritado, induziu o parto e fez o corte sem anestesia. Dulce Maia, da Vanguarda Popular Revolucionária, enquanto levava choque elétrico na vagina, ouvia do seu torturador: “Você vai parir eletricidade”. Em seguida a estuprou. Ambas sobreviveram para narrar os horrores vividos nos porões militares. Se espaço tivesse nomearia todas as nossas combatentes.
A tortura tem sido historicamente utilizada como mecanismo de controle dos indivíduos e de manutenção dos sistemas de organização social. Tortura é crime contra a humanidade, pois visa ao aviltamento da dignidade intrínseca da pessoa humana. A tortura de mulheres revela ainda o pior sadismo sexual na dominação e degradação da condição feminina.
                                                       foto daniel de andrade simões
Hoje muitas dessas guerreiras estão reintegradas à cena social, política e cultual do país sustentando novos projetos, mostrando que o Brasil pode avançar na direção de um resgate pleno de sua história, para que, enfim, possamos nos olhar frente a frente, sabendo quem somos e quais foram os lugares que ocupamos na construção de nossa trajetória recente.
Da Comissão Nacional da Verdade, aguardamos, promova a abertura dos arquivos da ditadura. Dê voz às suas vítimas/protagonistas, garanta espaço às vozes femininas, não apenas para termos uma narrativa histórica real e justa, mas em especial para reconhecer o papel feminino nas lutas da resistência. Ao conhecer esses arquivos será possível contabilizar, com precisão, quantas foram às mulheres mortas, torturadas e desaparecidas - onde, quando, como e por quem: “Nem perdão, nem talião: justiça!”

quarta-feira, 7 de março de 2012

Casas Floridas por Alcinéa Cavalcante de Macapá

                                                                   foto daniel de andrade simões
Gosto de andar pela cidade prestando atenção na paisagem. Nessas caminhadas encontro de tudo: coisas feias, bonitas, diferentes, únicas, uma flor despetalada na calçada, um jardim, lixo amontoado na frente de alguns prédios, calçadas sujas e outras limpas, casas de ar alegre, outras de ar triste e ainda outras que dão a impressão de que ali mora o mau humor e aquelas onde a gente tem certeza que mora a felicidade.
Na tarde de sábado, andando pelo bairro do Trem, deparei-me com esta casa coberta de flores. Fiquei encantada com tanta beleza. Poderia simplesmente ter parado do outro lado da rua, fotografado pra compartilhar com você e ir embora.
Mas não. Eu não ia perder a oportunidade de conhecer alguém que mora numa casa coberta de flores. “As pessoas que moram aí devem ser lindas, amorosas e de sentimentos belos”, pensei. E como é bom conhecer, ouvir, conversar com gente assim.
Bati palmas. Uma senhora com um largo sorriso me atendeu. Disse-lhe que achei tão linda a casa coberta de flores que queria a permissão para fotografar. Permissão concedida, fotografei.
Dona Floriza – é este o nome dela (e que nome combinaria mais com ela?) – convidou-me para o pátio cercado de plantas e passarinhos. E ali, em confortáveis cadeiras brancas de vime, conversamos sobre flores, frutas, pássaros, amor, natureza e Deus. “Sou feliz e minha casa é protegida, não preciso colocar grades nas janelas e portas porque Deus está aqui para nos proteger. Deus está onde tem flores, onde tem natureza”, disse-me. “Você já prestou atenção que pessoas que cultivam plantas são mais felizes, mais gentis e nunca estão de mau humor?”, perguntou-me.
Sim, dona Floriza. É isso mesmo. Afinal, quem ama o belo tem sentimentos belos. Né não? Trocamos informações sobre espécies de roseiras, falamos de hortas caseiras. Ela me contou dos pássaros que visitam seu jardim, eu contei dos passarinhos que moram no meu quintal.
Não demorou muito já nos sentíamos como velhas amigas que se visitam nas tardes de sábado. Floriza me levou para ver as rosas que cultiva no quintal.
Depois, como velhas amigas, sentamos na cozinha (sempre ouvi dizer que só se leva para a cozinha da casa as pessoas mais íntimas) e comemos bolo e tomamos suco. O bolo, delicioso por sinal, ali em cima da mesa me deu a impressão de que tinha sido feito para aguardar uma visita, o suco de soja geladinho servido num copo de vidro tão límpido, delicado e com a borda dourada, foi um dos mais gostosos que já tomei nos últimos tempos.
E ali, na cozinha, comendo bolo e tomando suco, como velhas amigas de infância, conversamos sobre a vida, filhos, trabalho e tantas outras coisas que só grandes amigas conversam.
Saí de lá bem mais feliz de que quando cheguei e com a certeza de que voltarei outras vezes. Até já combinamos um churrasco num sítio que Floriza tem na zona norte com um imenso pomar. “Nós somos desocupadas (aposentadas), podemos qualquer hora estar juntas pra conversar”, diz ela. E depois corrige: “Quer dizer, desocupadas não. Não trabalhamos mais, mas nos ocupamos em fazer o bem, cuidar de plantas, levar alegria para as pessoas e é isso que Deus quer”.
É verdade. Há ocupação mais prazeirosa do que essa?
Ao nos desperdirmos, ela renova o convite: “Volta sempre pra gente conversar, falar de coisas boas, tomar um café fresquinho…“.
Com toda a convicção eu respondo: “Claro que voltarei, pois amei te conhecer”.
Já na rua, olhei mais uma vez encantada para aquela casa coberta de flores, pedi a Deus que abençoe e proteja sempre Floriza e sua família e agradeci a Ele o privilégio de ganhar naquela tarde de sábado uma “nova velha amiga de infância”.
foto alcinéa Cavalcante

Bordados de Tauá e Nota de Falecimento sobre Mariita

foto daniel de andrade simões
Faleceu ontem (6.03.2012) em Rio Real, Se. após alguns anos de luta contra "o dragão da maldade", Maria Barbosa de Andrade (Mariita) mãe de Zete, Carlinhos, Daniel e Zé Raimundo

sábado, 3 de março de 2012

Corrupção nos Trilhos


Enviado por Paulo Timm
Relatório do TCU, de 15 de fevereiro de 2012 mostra que o rombo, só em falsos investimentos em ferrovias, a serem pagos pela União como indenização às concessionárias privadas, supostamente sob os “cuidados” da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pode chegar a R$ 25,5 bilhões, quantia superior à supostamente arrecadada com a privatização dos aeroportos.
Diante disso, alguns integrantes da Rede Desenvolvimentistas (www.desenvolvimentistas.com.br), da qual participo, subscrevem a CARTA DOS DESENVOLVIMENTISTAS III ”contra o desmonte do transporte ferroviário brasileiro”, cujo conteúdo roga-se divulgar.
Segue a íntegra do texto:
               Carta dos Desenvolvimentistas – Fevereiro 2012
                                Contra o desmonte do Transporte Ferroviário Brasileiro
                                  Rio Real, Sergipe - foto daniel de andrade simões

O ano de 2012 chega trazendo consigo o resultado parcial de patrióticas iniciativas de órgãos do Estado Nacional de investigação das causas do desmonte do transporte ferroviário brasileiro. O momento é oportuno, portanto, para propor mudanças que viabilizem inserir o transporte ferroviário como elemento estratégico de apoio ao desenvolvimento nacional.
O Tribunal de Contas da União, em 15/02/2012, aprovou por unanimidade dos Ministros o Relatório da Auditoria no Processo Nº 008.799/2011-3 (Acórdão Nº 312/2012 – TCU – Plenário), iniciada em 05/04/2011, sobre a atuação da Agência Nacional dos Transportes Terrestres – ANTT na regulação e fiscalização do transporte ferroviário no período de 2007 a 2011. As constatações do TCU são gravíssimas e, quando comparadas com os resultados da ampla investigação realizada pelo Ministério Público Federal, a seguir comentada, compõem um quadro que deve abalar a consciência republicana de quem sobre elas se detenha. Em resumo, a ANTT, por ação e omissão, permitiu que as concessionárias privadas tornassem inoperantes cerca de 2/3 da malha ferroviária brasileira de 28 mil km e as autorizou a contabilizar irregularmente, como investimentos, valores que podem chegar a R$ 25,5 bilhões, os quais serão cobrados da União no momento de extinção da concessão.

Este é o rombo estimado até 2011, produto de manobras contábeis que a ANTT deveria ter vetado por serem contrárias aos contratos. À frente este montante pode aumentar. pois faltam ainda dez anos para que as concessões expirem. Por outro lado, se somarmos os valores da destruição parcial ou total de 2/3 da malha ferroviária (21 mil km), teremos um rombo adicional de mais R$ 30 bilhões, elevando o prejuízo para os cofres públicos a mais de R$ 50 bilhões.

Por outro lado, como resultado de anos de investigação do Ministério Público Federal sobre o transporte ferroviário em todo o país, a Procuradoria Geral da República ingressou com a Representação Nº16848-2011-1 junto ao TCU contra a União (Ministério dos Transportes), a ANTT e a concessionária América Latina Logística – ALL. Com fundamento em documentos, perícias, depoimentos, audiências públicas, análise de procedimentos internos da ANTT, reuniões com setores produtivos e comunidades do interior do Brasil, a Procuradoria Geral da República constata: “Na falta de efetivo controle, as concessionárias como que se apropriam do negócio do transporte ferroviário de carga como se fosse próprio; fazem suas escolhas livremente, segundo os seus interesses econÃ?micos. O quadro é de genuína captura, em que o interesse privado predomina sobre o interesse público”. A Procuradoria Geral da República afirma que a responsabilidade pela sit uação atual é ” a política de total conivência e omissão da ANTT com relação ao abandono, destruição, invasão e malbaratamento dos bens públicos e, consequentemente, do transporte ferroviário como alavanca do desenvolvimento regional e nacional.”

                                     Porto Alegre, RS - foto daniel de andrade simões

A Procuradoria Geral da República explicita as razões que a levaram Representar conjuntamente contra a ANTT e a ALL: “Pois bem, se a concessionária dilapida – ela própria – ou abandona bens públicos arrendados, descumprindo durante mais de uma década cláusulas de contrato administrativo, por certo a Agência Reguladora tomou providências e exigiu soluções?” Segue a Representação: “Não. Nada fez até agora. Não aplicou multas, não denunciou o contrato, não exigiu investimentos quaisquer para a restauração ou reposição da estrutura e superestrutura, bem como dos bens móveis e imóveis afetos ao transporte ferroviário.”
Tais fatos, graves por si mesmos, ganham contornos escandalosos e inaceitáveis quando se sabe que o atual Diretor Geral da ANTT participou da formatação da privatização da Rede Ferroviária Federal – RFFSA como funcionário público, em seguida participou como empresário da privatização, vencendo dois leilões (Malha Centro Leste e Malha Sul), participou da estruturação das concessionárias Ferrovia Centro Atlântica – FSA e da Ferrovia Centro Atlântica – FSA (atual América Latina Logística – ALL), assinou o contrato de concessão da ALL em representação da concessionária (contrato que hoje a ANTT, dirigida por ele, fiscaliza) e participou da criação e dirigiu a Associação Nacional de Transportes Terrestres – ANTF (associação privada das concessionárias ferroviárias).
Com base nas considerações acima, dirigimo-nos aos Senhores Senadores da República solicitando que não aprovem a recondução, para mais um mandato, do atual Diretor Geral da ANTT, e que requeiram ao Ministério dos Transportes uma resposta objetiva e formal às denúncias encaminhadas pela Procuradoria Geral da República e aos resultados colhidos pelo Tribunal de Contas da União. À Presidente Dilma solicitamos a indicação para a Direção Geral da ANTT de um nome comprometido com o interesse público, com o interesse nacional e com as aspirações históricas do povo brasileiro.
Grupo Desenvolvimentistas, formado por economistas, engenheiros, advogados, jornalistas, professores do ensino superior, ativos e inativos, integrantes ou egressos do setor público e do setor privado nacional – www.desenvolvimentistas - Extraído do blog Sul 21
                              Serra do Navio, Amapá - foto daniel de andrade simões

quinta-feira, 1 de março de 2012

Travessia 2012 - Ilha dos Lobos - Torres: Primeiro lugar para Giovani Silva Farina, segundo lugar para Sergio Sejanac Pavão, seguido por Marcus Vinicius Magalhães Silva e Kassius Vargas Prestes - Feminino: Lauren Goulart, Giulia Bassani e Kamily Vargas Prestes

Destaque para Enio Aguzzoli - venceu a si próprio ao chegar alegre e feliz


Luíza Grave Gross, merecida medalha para a mais vibrante e bela participante - Primeiro lugar na categoria 20 a 24 anos. Sexto lugar na categoria feminina



Rafael Silveira, Majane Silveira  e  José Daniel Craidy Simões
Roger Perrenoud, chegada tranquila e bem curtida na Travessia dos Lobos


Mãe nadadora faz homenagem ao filho e comemora chegada  - fotos daniel de andrade simões