sexta-feira, 30 de março de 2012

Falando de Armas e de Flores - por Tânia Miranda

Porto Alegre (slide 1981) foto daniel de andrade simões

FALANDO DE ARMAS E DE FLORES

Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br


Hoje (31.03.2012)  faz 48 anos que o Brasil foi vitimado por um golpe militar seguido de uma ditadura que durou 21 anos. Na condição de sobrevivente da resistência sou instigada a trazer para o presente a memória desse movimento.

Minas Gerais (slide) foto daniel de andrade simões

A ditadura deu forma extremada à violência do Estado. Ao aumentar a sanha repressiva, fez crescer em grupos de esquerda, a ideia de que o único caminho para combatê-la seria através de ações armadas. A impossibilidade de participação institucional empurrou parte daqueles que se opunham ao regime para o caminho exclusivo das armas. Eram aqueles anos em que um furacão guerrilheiro varria as Américas, em que Che Guevara saiu de Cuba, armas e sonhos na mão, pelo Congo, Bolívia, e quando morto passou a estar em todas as partes do mundo: nas barricadas dos estudantes no maio de 1968 na França, na Alemanha, no México, em São Paulo e no Rio de Janeiro. É um paradoxo. A morte de Che, em 1967, era o sinal que apontava para a falência, naquela conjuntura, dessa forma de luta. Parte da esquerda brasileira, ao desconsiderar esse dado, vai para o ataque de peito aberto. E quando a luta se desloca para o terreno da clandestinidade, os embates se dão exatamente onde o inimigo é mais forte. Trata-se de uma luta desigual e de uma opção que, ignorando a correlação de forças, custaria inúmeras vidas. Difícil perceber isso com os olhos da época. Mas a oposição não foi apenas armada.
 Fórum Social Mundial 2002 em Porto Alegre - foto daniel de andrade simões

Zuenir Ventura, no antológico livro, 1968: o ano que não terminou, recupera a memória desses atores sociais: “Esses nossos ‘heróis’ são os jovens que cresceram deixando o cabelo e a imaginação crescerem. Eles amavam os Beatles e os Rolling Stones, protestavam ao som de Chico ou Vandré, viam Glauber e Godard, andavam com a alma incendiada de paixão revolucionária (...). Era uma juventude que se acreditava política e achava que tudo devia se submeter ao político: o amor, o sexo, a cultura, o comportamento.” A música de protesto ocupou seu espaço na luta contra a ditadura. Jovens entre 18 e 25 anos faziam a revolução tendo como armas somente poesia e o violão. Chico Buarque ao chamar a mulher amada - Benvinda -, podia estar homenageando-a como podia estar saudando a liberdade. Cantando o amor à mulher, cantava política. No discurso amoroso, a denúncia, o protesto.

Subversivos intelectuais no Rio de Janeiro "opiando a cidade? " ... jornalista baiano Luiz Carlos Maia Bittencourt, sua companheira Lucia e mais dois do bando terrorista carioca, dois ou três ? ...

Serão esses os jovens que ainda são nomeados de perigosos terroristas? Ou serão homens e mulheres que se deram a uma causa de corpo inteiro, adotando a forma de luta que lhes pareceu mais acertada? Esses atores sociais são, na sua maioria, jovens que enfrentaram a clandestinidade, a tortura, a morte brutal, resistindo à opressão. Homens e mulheres que não se dobraram à violência do Estado e arriscaram a vida em nome do que acreditavam. E para aqueles que acham que tudo não passou de uma romântica aventura, romantismo não era deformação ou vício, mas virtude plena.



Um comentário:

  1. Nessa época da ditadura e truculência militar, ser poeta, estudante, intelectual era ser contra o regime. Era-mos todos suspeitos, terroristas subversivos.
    Havia uma grande subserviência aos americanos, era a tal da guerra fria que campeava, era o terrorismo de Estado. Muitos morreram na tortura, muitos sofreram nas prisões. Muitos parentes procuram por seus mortos e desaparecidos.

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