quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher - por Tânia Miranda

                                             Mães da Praça de Maio - fotos daniel de andrade simões
MULHERES NA RESISTÊNCIA À TIRANIA E À OPRESSÃO
Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
tania.miranda@terra.com.br
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, uso esse espaço dando a palavra às mulheres que fazem e fizeram a história do nosso planeta. Nova York, 8 de março de 1857, 129 operárias foram queimadas vivas dentro de uma fábrica. Seu crime: lutavam por melhores condições de trabalho, por salários equiparados aos dos homens, pela redução da jornada de trabalho de 16 para 10 horas e por licença maternidade.
Eleonora Annes (Nôra) artista plástica e arquiteta gaúcha
Retrocedendo na história, lembro uma dor que atravessa o tempo, a dor de Antígona, cantada na tragédia de Sófocles, que expressa à determinação de uma mulher diante da tirania. Seu crime: enterrar o irmão morto em batalha. Mito trágico, a coragem de Antígona, repetiu-se com outras mulheres ao longo dos séculos, em outras lutas de contestação e resistência. A mãe que diante de Salomão não permitiu dividir seu filho ao meio. Ifigênia, filha de Agamenon, que aceitou ser sacrificada pela causa da Grécia. Argentinas, avós e mães da Praça de Maio, protagonistas de uma comovente peregrinação em busca de suas filhas e filhos, netas e netos, exigindo esclarecimentos sobre os 30 mil desaparecidos na ditadura militar daquele país.
               Guerrilheira da Frente de Libertação Moçambicana ferida - foto daniel de andrade simões
No Brasil, se realizarmos rápida pesquisa a fim de mapear dez nomes que mais aparecem nos livros de História do Brasil, não encontraremos o de uma mulher. À exceção da princesa Isabel, tida como “libertadora” e nunca como governante, o Brasil parece ter sua trajetória construída exclusivamente por homens. A história “oficial”, narrada a partir de eventos vencedores no formato de grandes biografias nacionais, é de uma nação estritamente masculina. Nossos “heróis” têm, tradicionalmente, barba e bigode.
 No Brasil da ditadura militar, mulheres foram presas, humilhadas, torturadas, assassinadas, “desaparecidas” e enterradas como indigentes. Tiveram a alma e o corpo violados, sofreram a dor indizível de ver seus filhos e filhas – até recém nascidos – ameaçados nas salas de tortura. Sofreram o banimento, a separação das famílias, o rompimento de laços, o abandono de projetos e sonhos, o exílio interno, tornando-se clandestinas em sua própria pátria. Houve aquelas que optaram pela luta armada e, outras, ainda que sem armas, colocaram em risco as suas vidas em nome da democracia e da justiça social. Centenas estiveram em todas as frentes de luta. Muitas ainda sofrem com seqüelas físicas e psíquicas.
                                                               foto daniel de andrade simões
Hecilda Veiga, militante da Ação Popular, presa grávida de 5 meses, assim mesmo foi torturada. Para apressar as coisas, o médico, irritado, induziu o parto e fez o corte sem anestesia. Dulce Maia, da Vanguarda Popular Revolucionária, enquanto levava choque elétrico na vagina, ouvia do seu torturador: “Você vai parir eletricidade”. Em seguida a estuprou. Ambas sobreviveram para narrar os horrores vividos nos porões militares. Se espaço tivesse nomearia todas as nossas combatentes.
A tortura tem sido historicamente utilizada como mecanismo de controle dos indivíduos e de manutenção dos sistemas de organização social. Tortura é crime contra a humanidade, pois visa ao aviltamento da dignidade intrínseca da pessoa humana. A tortura de mulheres revela ainda o pior sadismo sexual na dominação e degradação da condição feminina.
                                                       foto daniel de andrade simões
Hoje muitas dessas guerreiras estão reintegradas à cena social, política e cultual do país sustentando novos projetos, mostrando que o Brasil pode avançar na direção de um resgate pleno de sua história, para que, enfim, possamos nos olhar frente a frente, sabendo quem somos e quais foram os lugares que ocupamos na construção de nossa trajetória recente.
Da Comissão Nacional da Verdade, aguardamos, promova a abertura dos arquivos da ditadura. Dê voz às suas vítimas/protagonistas, garanta espaço às vozes femininas, não apenas para termos uma narrativa histórica real e justa, mas em especial para reconhecer o papel feminino nas lutas da resistência. Ao conhecer esses arquivos será possível contabilizar, com precisão, quantas foram às mulheres mortas, torturadas e desaparecidas - onde, quando, como e por quem: “Nem perdão, nem talião: justiça!”

3 comentários:

  1. Tri legal texto e fotos, saitica é excelente.

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  2. "o Brasil parece ter sua trajetória construída exclusivamente por homens."

    =======

    HOMENS BRANCOS EXATAMENTE!

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