quarta-feira, 24 de agosto de 2011

La Novena por WILSON BARBOSA - Negus - Sobre sua prisão no Uruguai (ficção)

foto e artemanha: daniel de andrade simões

..."Amarraram feltro molhado nos meus pulsos e meus tornozelos. Os choque elétricos ali eram continuos. De vez em quando, davam-me choques no ânus, no pênis e na boca. Tal tratamento se alternava com a conversação, cujo teor já resumí. Perguntas sobre a luta revolucionária no Brasil.

Parecia-me evidente que quanto pior fosse a situação do governo brasileiro, melhor para eles. No entanto, qualquer brasileiro que lhes caísse ao alcance, seria imediatamente massacrado, como prova de boa vontade. E provavelmente devolvido. Por isso, eu sabia que de nada adiantava contar-lhes “versos” (como eles diziam...) de qualquer natureza. O desfecho da minha situação era morte ou devolução para o Brasil. Não podia ser tão estúpido para esperar outra coisa.
... Eu respondia às suas idiotices com outras de mesmo nível que já havia apresentado em meus depoimentos anteriores. Eles – também aqui – não pareciam interessar-se pelas “bromas” (segundo eles) que eu lhes narrava. Debaixo da pauladaria que distribuíam davam risadas das respostas e me chamavam de “Versolín Bayer”... poeta que até hoje desconheço...
 ! Como se te ocurre, hijoputa! Sos de lo más bromeador, desgraciado!
E a porrada comia. Para eles deve ter sido uma noite muito divertida. Hoje, desde seis anos de distância, ainda não consigo divertir-me com aquilo. Não acho justo que hajam se divertido unilateralmente. Gostaria que a vida nos proporcionasse uma oportunidade, para que eu também lhes pudesse organizar uma festinha... igualmente fraternal, entre dois povos que se amam...

...Parei de receber minha quota de carinho reservada aos brasileiros lá pelas cinco horas da manhã. Tiraram-me da mesa-gradil e emprestaram-me uma toalha molhada, para que me limpasse. Eu havia me urinado, mas não se podia fazer nada. Tive que vestir minha calça de tergal, fria com seus fios sintéticos, naquela manhã gelada. Devolveram-me minha camisa azul, de flanela riscadinha e algemaram-me. Pude sentar-me no banco de entrada da edícula e ver o dia amanhecer"...

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