Inauguração em Porto Alegre pela Caravana da Anistia, o Monumento ao Sargento Raimundo (o mãos amarradas) primeira vítima da ditadura militar no RS
Dep. Maria do Rosário (atual Ministra) Dep. Adão Prieto, Paulo Abrãao, Prefeito Fortunatti, Jair Krischke Presidente do MJDH - fotos daniel de andrade simões
O Planalto também dá conta de que a nota do clube militar teria sido uma tentativa de atemorizar o governo federal, evitando que a presidente Dilma Rousseff escolhesse pessoas “mais à esquerda” para compor a comissão.
Para o professor de História da Ufrgs, Enrique Padrós, que estuda as ditaduras do Cone Sul há mais de 15 anos, os militares tentam se antecipar aos efeitos que a Comissão da Verdade podem gerar– como pressões sociais para que a Lei da Anistia seja revista.“Estão agindo preventivamente para tentar evitar que a médio prazo possa haver uma mudança na postura da Justiça”,avalia. O pesquisador se surpreendeu com a reação, já que, na sua avaliação, o governo federal, ainda que esteja promovendo ações no sentido de resgatar a memória do que aconteceu durante o regime militar, não demonstra disposição para demandar responsabilização judicial de torturadores. “É surpreendente essa reação, porque o governo nesse sentido tem sido muito limitado”, observa.
Padrós aponta que os clubes militares são “o último reduto das viúvas da ditadura” e diz que os signatários do manifesto ainda não assimilaram a redemocratização do país.
“Continuam sendo senhores paranoicos que vivem na Guerra Fria. A cabeça deles parou numa lógica de segurança nacional da década de 1970, ainda não passaram por um processo de democratização”, critica o professor, que aponta que a impunidade aos crimes delesa-humanidade dá combustível a esse tipo de postura. “A impunidade faz com que eles pensem que toda alusão ao passado é uma ameaça a uma democracia que só existe na cabeça deles, sem movimentos sociais, sem reformas e sem contraditório”, considera Padrós.
Jair Krischke cobra punições de Dilma a militares
Jair Krischke entre troféus, ganhos em reconhecimento a sua luta por Direitos Humanos - foto daniel de andrade simões
O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grandedo Sul, Jair Krischke, considera a reação dos militares “absolutamente desproporcional” e cobra uma atitude enérgica da presidente Dilma. “Esses senhores esquecem que a presidente é a comandante-em-chefe das Forças Armadas. Dilma deve exercitar seu comando e enquadrá-los nos regulamentos disciplinares”, opina.
Jair avalia que há setores “apavorados” nas Forças Armadas com o surgimento da Comissão da Verdade.
“São valentes contra senhoras indefesas e pessoas submetidas, mas não querem enfrentar a responsabilidade que lhes toca.
São grandes covardes”, dispara.
Para o jornalista Luiz ClaudioCunha, que já investigou crimes cometidos pelo regime militar, a insatisfação dos clubes militares pode ser um eco dos humores nos quartéis e nos servidores da ativa.
“Vocalizam o que os militares da ativa não podem expressar. Podem estar ecoando um desconforto abafado”,observa.
Entretanto, ele acredita que “a democracia não tremerá” diante das ameaças desses setores. “Estão achando que Dilma será solidária a eles? A presidente tem que ser solidária com as suas ministras. São nostálgicos da ditadura e estão assustados”, avalia o jornalista.
Samir Oliveira
Um comentário:
Quem tem medo da Verdade? Quem praticou a mentira, a tomada do poder à força, o assassinato de opositores políticos, a tortura como instrumento de governo. As manifestações atuais são uma verdadeira confissão de culpa. Os dois lados a serem confrontados no caso não são 'direita e esquerda', como querem os militares, mas os cidadãos e o Estado que os matou e perseguiu. O Estado não foi anistiado e tem obrigação de prestar contas aos familiares e à sociedade, é indeclinável.
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