Imperador e Senador do Amapá Sarney e Ulisses Guimarães timoneiro da democracia- foto daniel de andrade simões
Sarney e Jorge Amado juntos numa foto, conversando como velhos amigos. Há cerca de 30 anos atrás. O primeiro é filhote direto da ditadura militar e oligarca do Maranhão, mamando recursos do governo quando o fascismo era a solução adotada desde 1964. O segundo foi o nosso querido escritor, e um comunista que chegou a deputado federal na constituinte de 1946, com aquela coragem típica dos nossos grandes nomes da época, os tempos da velha e repressora sociedade em início de decadência, das grandes lutas pelo mundo com a emancipação de inúmeros países libertando-se do jugo colonizador. Pois não entendi e, radicalizado como estava nos meus 30 anos, cheguei a emputecer com o Jorge Amado. Como explicar aquela "conciliação" com um "burguês nojento e ladrão", lambessaco de generais? Comentava com amigos: como pode um comunista exemplar conversar com um sujeito daqueles? Pois é. Mais tarde soube que o Sarney era metido a poeta, que admirava as obras do Jorge Amado, que haviam se tornado grandes amigos. Foram necessários mais alguns anos para que entendesse a atitude elevada do Jorge e do próprio Sarney: criaram um vínculo pela literatura e deixavam de lado suas opções ideológicas ou seja lá o que haviam feito no passado. O comunistra capaz de reconhecer a parte boa do burguês e o burguês capaz de aceitar o lado poético do comunista. Talvez tenham se aproximado por outras razões, o Sarney buscando vender outra imagem, sei lá; mas prefiro ficar com essa capacidade civilizatória do homem que, mesmo com todas as razões para atitutes hostis e odiosas, demonstram uma exemplar virtude que separa a nossa parte boa do resto dos nossos fracassos, do nosso horrível passado humano, da nossa sangrenta História.
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