terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Em Busca da Verdade por Tânia Miranda



Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação

No Brasil da ditadura militar, filhos e filhas desse solo foram presos, torturados, assassinados, “desaparecidos”, enterrados como indigentes. Tiveram a alma e o corpo violados, sofreram a dor indizível de ver seus filhos e filhas – até recém-nascidos – ameaçados nas salas de tortura. Sofreram o banimento, a separação das famílias, o rompimento de laços, o abandono de projetos e sonhos, o exílio interno, tornando-se clandestinos em sua própria pátria. Colocaram a vida em risco em nome da democracia e da justiça social.  Os sobreviventes desse terror ainda sofrem com seqüelas físicas e psíquicas.
Muitos desses guerreiros e guerreiras estão reintegrados à cena social, política e cultual do país. Alguns, após saírem da prisão, tornaram-se advogados de presos políticos, numa demonstração incontestável de que a prisão e a tortura não foram capazes de dobrá-los. Convicção política e solidariedade prevaleceram. Na Bahia temos o exemplo de Rui Patterson, entre outros, Brasil a fora.
A superação dos fantasmas que ainda assombram nossa história exige confrontá-los. Exorcizá-los, retirá-los dos lugares onde estão escondidos, nomeá-los, responsabilizá-los. Isso nos fará avançar na direção de um resgate pleno de nossa história recente com justiça.
Nemésio Garcia, ex-preso político no Quartel do Barbalho, Lemos de Brito e Quartel de Amaralina. Após sua soltura, foi contratado pela FAO como técnico para Moçambique. Morreu em um buraco de mina terrestre. Queremos traze-lo de volta para sua casa, Brasil, Bahia - foto daniel de andrade simões

Da Comissão Nacional da Verdade, das suas versões estaduais, das comissões e comitês criados independentemente do Estado, aguarda-se que promovam a abertura dos arquivos do período. Deem voz às vítimas/protagonistas, não apenas para contabilizar, com precisão, quantos foram presos, mortos e “desaparecidos”, mas elucidar quando, onde, como, por quem e por ordem de quem. Será aí que as famílias encontrarão seus mortos e poderão, 50 anos depois, lhes dar uma sepultura digna.
É por esse caminho que as diversas comissõe cumprirão a tarefa histórica de jogar luzes sobre uma história que o Brasil não deve apagar da sua memória. D. Paulo Evaristo Arns nos ensina: Os povos que não podem ou não querem confrontar-se com seu passado histórico estão condenados a repeti-los.
Publicado no jornal A TARDE, Bahia, em 28/01/2014.

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