domingo, 16 de setembro de 2012

Soneto Póstumo - Mario Quintana

foto daniel de andrade simões

Nada permanece igual no tempo, a não ser o próprio tempo. Quintana percebe isso como ninguém. Um velho amor valeu em seu próprio tempo. Drummond diria: “Mudam-se os tempos/ mudam-se as vontades/ Muda-se o ser” O tempo é implacável e não tem piedade de nós, pobres e efêmeros humanos. Cecília Meirelles diria: “Talvez pensem que o tempo volta/ E que vens, se o tempo voltar”. Neste poema Quintana afirma que o tempo não volta e nem o que éramos ou as sensações e sentimentos que sentíamos. “No fim, tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não consegue levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro, o cheiro que tinha um dia o próprio vento...” Ou seja, o tempo como o vento passa...e deixa somente as recordações.


SONETO PÓSTUMO
- Boa Tarde... - Boa Tarde! - E a doce amiga
E eu de novo, lado a lado vamos!
Mas há um não sei quê, que nos intriga:
Parece que um ao outro procuramos...
E, por piedade ou gratidão, tentamos
Representar de novo a história antiga.
Mas vem-me a idéia... nem sei como a diga...
Que fomos outros que nos encontramos!

Não há remédio: é separar-nos pois.
E as nossas mãos amigas se estenderam:
-Até breve! - Até breve! - E, com espanto

Ficamos a pensar nos outros dois.
Aqueles dois que a tanto já morreram...
E que, um dia se quiseram tanto!

Junho, 1952
Mario Quintana in: Baú de Espantos
extraído do www.quintanaeterno.blogspot.com.br
Bernardo

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