quinta-feira, 14 de junho de 2012

Porto Alegre - Golpe de 1964 por Dante Guimaraens Guazzelli


Porto Alegre e o Golpe de 1964

Durante o Golpe de 1964, Porto Alegre foi palco de confrontos entre os golpistas e aqueles que fizeram resistência a imposição da ditadura, como mostra a foto abordada aqui foi encontrada pelo Projeto Memória Visual da Ditadura/CAMP na Fototeca Sioma Breitman do Museu Joaquim José Felizardo, de um autor desconhecido, que retrata manifestações popularesdurante o golpe de 1964.
O Projeto Memória Visual da Ditadura no Rio Grande do Sul está fazendo um levantamento dos acervos privados e públicos que contêm fotografias, charges, desenhos, entre outros documentos visuais que contem a história da ditadura civil-militar no Rio Grande do Sul. Partindo destas imagens de repressão e de resistência, buscamos contribuir para o resgate e a preservação da memória do período, e a criação de uma cultura de respeito aos direitos humanos.
Porto Alegre viveu momentos conturbados logo após o Golpe, havendo na cidade tanto grupos golpistas quanto legalistas. Após a deflagração do movimento sedicioso que levaria ao golpe em 1º de abril, o então Presidente João Goulart, com o objetivo de garantir que o Exército se mantivesse fiel à legalidade, nomeou o Gal. Ladário Pereira Telles comandante do III Exército (que corresponde às tropas do Sul do Brasil).
Já o então governador do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, estava do lado dos golpistas e tomou medidas para reprimir a resistência, como requisitar as emissoras de rádio e de televisão e colocar a Brigada Militar e a Polícia Civil de prontidão para combater a resistência. Isto deveu-se ao fato de que uma parcela da população de Porto Alegre estava decidida a tomar o Palácio Piratini e depor o governador Meneghetti. Frente a isto, a tropa de choque da Brigada Militar posicionou-se em frente ao Palácio em defesa do governador.
Para evitar o enfrentamento, o então prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise, que era do partido do presidente (PTB) e um dos líderes da resistência, clamou à população que aguardasse o desenlace dos acontecimentos no Paço Municipal. Neste momento é restaurada a Cadeia da Legalidade, rede de emissoras de rádio utilizadas na Campanha da Legalidade.
Frente à resistência feita pelo III Exército e pelo movimento civil, o Governador Meneghetti decide realizar a “Operação Farroupilha”, e transfere a sede do Governo do Estado para o 3º Batalhão de Caçadores da Brigada Militar em Passo Fundo, onde ficaria até o dia 3 de abril.
No dia 2 de abril, João Goulart é recebido pela população de Porto Alegre, mostrando que a “Mui leal e valorosa” estava disposta a resistir ao Golpe. No final da manhã do mesmo dia, Jango decide ir para o exílio no Uruguai, recusando-se a distribuir armas para a população e ampliar a resistência. Ele nunca mais voltou com vida ao seu país.
A fotografia escolhida mostra um grande grupo de civis próximos da Praça XV – em frente à atual sede do CAMP – fugindo com pressa de algo: existem indícios de que a fotografia registrasse uma dispersão a uma manifestação popular na Praça XV que Brigada Militar realizou no dia 1º de abril.
Partindo desta imagem, nota-se que em Porto Alegre houve uma resistência civil, isto é, que determinados setores da população estavam dispostos a defender a democracia, e que, ao mesmo tempo, haviam grupos dispostos a reprimir em nome do golpe. Ao mesmo tempo, vemos elementos que remetem a vida cotidiana da cidade, como o bonde ou o carrinho de pipocas ao fundo: isto mostra que estes confrontos se davam dentro da rotina das pessoas comuns, e não dentro de gabinetes.
Enfim, podemos ver a partir deste registro o impacto que o golpe de 1964 teve em Porto Alegre, mostrando que a cidade foi palco da última tentativa de resistência.
Por: Dante Guimaraens Guazzelli
Historiador do Projeto Memória Visual da Ditadura/CAMP
Foto: Manifestação Popular durante o golpe, 1964, Autor Desconhecido. Acervo do Museu Joaquim José Felizardo/ Fototeca Sioma Breitman
http://museudepoa.blogspot.com.br/p/fototeca.html


Um comentário:

  1. Olhando a foto e lendo este comentário me lembro do meu professor de história da faculdade, Bellomo, que falou sobre a grande resistência que aconteceu em Poa no Golpe de 64! Muito bom ver isso aqui.
    Bj,
    Marília

    ResponderExcluir