quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crueldade na Tradição Cultural por Tânia Miranda


fotos daniel de andrade simões

O teólogo Leonardo Boff, em excelente artigo, divulga a instituição de 6 de fevereiro como o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, chamando a atenção para uma tradição cultural cruel, feroz, inimiga da vida. Denuncia essa prática como uma convenção social nefasta. As estatísticas são estarrecedoras. Praticada secularmente em 28 países da África, no Oriente Médio, no Sudeste da Ásia e em algumas regiões da Europa onde há a imigração destes países, calcula-se que existam no mundo entre 115 milhões e 130 milhões de mulheres genitalmente mutiladas. Outras 3 milhões são anualmente submetidas a tais horrores, incluindo 500 mil na Europa. Por trás desse quadro está o mais primitivo machismo que impede à mulher o acesso ao prazer sexual, transformando-a em objeto do deleite exclusivo do homem. Não sem razão a Organização Mundial da Saúde a denunciou como tortura.
O sofrimento do outro por si só desqualifica certas tradições culturais e nos impõe combatê-las. O que é cruel é crueal em qualquer cultura e em qualquer parte do mundo. A crueldade, por desumana, não tem direito de existir. Quando a diferença cultural implica desumanização e mutilação do outro e comporta violação da dignidade humana, aí encontra seu limite e deve ser coibida, proibida e até criminalizada. A lei suprema é tratar humanamente os seres humanos e por isso devemos ser críticos uns aos outros, identificando e combatendo o desrespeito aos direitos humanos.
Para o teólogo, nós ocidentais, por exemplo, somos individualistas e dualistas, tão centrados em nossa identidade que temos dificuldade em aceitar os diferentes de nós. Tendemos a tratá-los como inferiores. Isso fornece a base ideológica ao nosso espírito colonialista e imperialista, impondo ao outro os nossos valores (e anti-valores) e visão de mundo. Semelhantes limitações encontramos em todas as culturas. Mas quando elas violam todos os parâmetros da decência e basta o simples senso comum para torná-las inaceitáveis, é tolerância zero.
Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação 






2 comentários:

  1. Não sabia que existia esta data, bom saber.
    Concordo totalmente com a autora.
    Abraço,
    Marília

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  2. Eu também concordo, belo texto, maravilhosas fotos deste blog.

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