quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quem Samba Fica ... por Rui Patterson - Apontamentos

foto (slide 1984) daniel de andrade simões
O gozador Rui: ... "acreditava-se que a Bahia deveria ser uma área de recuo, um santuário para militantes perseguidos e estressados de todo o país, evitando promover ações armadas no estado"...


jornalista Tania Miranda

DO LADO CERTO DO CANO DO REVÓLVER
Tânia Miranda, historiadora, mestre em educação
                                                                  tania.miranda@terra.com.br
Hoje, exatos 42 anos da sua prisão, chega às livrarias a autobiografia do famoso advogado baiano, Rui Patterson. Ao lançar Quem samba fica: memórias de um ex-guerrilheiro, abre as cortinas do passado e tira dos porões a história da esquerda baiana. Diz não ao sigilo eterno e sim a verdade.
Você está preso. Se reagir, morre. Como um filme de bangue-bangue moderno, assim começa a sua narrativa. Leveza é o que de imediato atrai o leitor, apesar da dramaticidade inerente à história de um ex-preso político, cujas dores da tortura são eternas. Com firmeza expõe a sua convicção de que esteve do lado certo do cano do revólver. Com humildade se diz aprendiz de guerrilheiro e admite, sem culpa, que após recuperar a liberdade tornou-se burguês: apreciou o bom vinho, charutos, dinheiro. Hilário. Ao mesmo tempo em que não sossegou e como advogado continuou a luta pela democracia e pelos direitos humanos, usando, agora, o Direito como arma. Ironicamente passou a defender presos políticos, mas seu destino foi a advocacia trabalhista: retomada de sindicatos, associações e fundação do Sindiquímica. No final, orgulhoso, afirma que Pablo, seu filho, o superou na arte de advogar.
O autor nos presenteia com uma raridade. Contrariando a maioria absoluta dos analistas do período – tanto do lado da resistência quanto dos militares -, demonstra que a opção pela luta armada não foi restrita ao eixo Rio-São Paulo e a guerrilha do Araguaia. Na Bahia, como em quase todos os estados, ações armadas de grande significado e importância marcaram à época, embora tenham ficado na obscuridade. Sobre elas, nos brinda com episódios, alguns curiosos, até então desconhecidos.
Rui foge, com prudência, de considerações políticas e filosóficas, da tradicional visão maniqueísta de uma luta entre mocinhos e bandidos, do bem contra o mal, reconhece que o jogo entre a memória e o esquecimento é dialético e que a memória precisa ganhar a partida. Um livro sobre a história de um homem que reafirma antigas convicções revolucionárias e permanece do lado certo do cano do revólver. É leitura obrigatória.
Publicado no jornal A TARDE – Bahia, em 17/10/2011.

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