terça-feira, 28 de dezembro de 2010

De Volta por Wilson do Nascimento Barbosa - o poeta do Saitica

Luzes do sertão- rapôso Rio Real - foto daniel de andrade simões (slide)

De Volta
De todo abandonado e a sofrer
As humilhações por enumerar
Levou-me o vento a outras paragens
Onde pudesse, por inútil, descansar
Rodei por ali como as pequenas pedras que aparecem
Mas não fazem parte das calçadas
Chutado e pisado de cá para lá
De lá para cá, tudo sem maldade,
Com o infinito bálsamo da indiferença
Que nos concede a cultura que nos ignora
Por fim, num movimento impensado,
Como o súbito vendaval na tarde
Que escurece todo a natureza
Eis-me de volta, o insolicitado,
Sem desconforto e pena, qual visível sinal
Que os tempos eram findos
Mas outros não eram chegados...
Caminho entre a multidão com a minha desgraça
Já não me infamiam nem ousam perceber-me
Quem entenderá do meu destino?
Quem hoje irá ler a minha sorte?
Cem balas não podem atravessar um só ponto
Da minha derradeira couraça
E o sonho que ainda me abrasa está enterrado
Tão fundo
Que parece que já não cabe sobre a terra...
Caminho só no silencio e nada me desespera
Peço apenas a Deus que isso não demore muitas eras...


(12-08-1985)

Um comentário:

  1. Dani,
    Tudo bem?
    O texto final é "não demore muitas eras" mas está "demore muitas eras"...dá pra corrigir?
    Beijinhos
    Negus

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