sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Saitica II

Ave noturna, ave do entardecer, quando o sol começa arrumar o travesseiro para dormir, ouve-se seu canto à distância. É o vento chegando para trazer más notícias. A vó Safira levanta-se para receber a nova lista que chega. Uns com mortes já anunciadas, outros chegam de surpresa, sem anúncio e ainda com sangue e corpo quente. Aconteceu ainda agorinha,... fala como se fosse uma senha. Ela transforma-se em ave, vai para a cumeeira e inicia seu canto triste. Fala com os recém chegados, cobrindo com suas asas mornas. Acalma cada um que se aproxima.Transforma cada um em ave do sertão...
O tempo passa rápido, são muitos na lista, parece que vive-se de morte a vida, mas...há lugar para todos, parentes, amigos e mesmo para loucos e desprotegidos, assim segue, seu canto anunciando as estações. Elas mudam como o vento. Quando chega o frio, vem o inverno, quente é o verão da seca, estação que trará mais hóspedes.Vento morno, é hora de visitas, à tardinha, hora triste do adeus. Ouve-se sempre o canto de agouro, anunciando o buraco feito. É a vó Safira incansável. Quando alça vôo, sente a magnífica obra da natureza, o verde aéreo dos coqueiros, cajueiros e jaqueiras, recortando o azul do céu. Do alto, vê as curvas empoeiradas, o calor faiscante do chão. Se mais não sobe não é por cansaço nas asas, é por não caber maior quantidade de medo ao criador. No sertão ronda o perigo. É preciso evitar a morte matada. O matador anda nas estradas, lava seu corpo no riacho, mas sua alma continua suja e podre !

texto e foto daniel de andrade simões

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Uma Saída pelo Consumo


Hoje, com a metade da humanidade situada abaixo da linha de pobreza, já se consome 20% a mais do que a Terra consegue renovar. Se a população do mundo passasse a consumir como os americanos, seriam necessários mais três planetas iguais a este para garantir produtos e serviços básicos como água, energia e alimentos para todo mundo.
Sendo impossível arranjar mais três Terras, nem os americanos poderão continuar com o mesmo modelo de consumo, nem a população mundial poderá adotá-lo. A única saída é todos adotarmos padrões de produção e de consumo sustentáveis. Para os países ricos, isso significa, por exemplo, procurar fontes de energia menos poluidoras, diminuir a produção de lixo e reciclar o máximo possível, além de repensar sobre quais produtos e bens são realmente necessários para alcançar o bem-estar. Aos países em desenvolvimento, que têm todo o direito a crescer economicamente, cabe o desafio de não repetir o modelo predatório e buscar alternativas para gerar riquezas sem destruir florestas ou contaminar fontes de água.
Nesse processo o consumidor consciente tem um papel fundamental. Nas suas escolhas cotidianas, seja pela escolha de empresas das quais vai comprar em função de sua responsabilidade social, pode ajudar a construir uma sociedade mais sustentável e justa.
Disse o filósofo Bertrand Russel : “Ficar sem algumas coisas que você quer é parte indispensável da felicidade”

foto daniel de andrade simões

naVegar




Não se apresses sábado ...
Amanhã será domingo
Na segunda descansarás

Não se canse segunda
amanhã será terça
véspera de quarta, próximo de quinta
Na sexta a feira trará novo sábado
e novamente domingo
para segunda descansar

Então meu camarada, correndo tentando chegar antes ?
Parado esperando domingo chegar ?
E esta terra de segundas, terças...
De quintas ...
E daí ?...
Ontem foi dia de segunda
Foi ?...
Meu relógio diz ser hora
De pensar
Ou não... ?!...

texto e foto daniel de andrade simões 

domingo, 16 de dezembro de 2007

Ceramistas de Rio Real - Aurinha de Rio Real


Da Cultura luso-indígena, nasce a cerâmica
do Município de RIO REAL - BA

Município fundado há mais de 350 anos. Seus habitantes na sua maioria de origem indígena fizeram da cerâmica parte do seu cotidiano, principalmente para o transporte e armazenagem da água potável.
O barro usado na fabricação de moringas, pratos, potes, panelas e purrões (objetos onde se armazenam até hoje alimentos tipo farinha de mandioca e grãos), retirado em brejos da região é considerado um dos melhores do nordeste para este tipo de cerâmica.
À rusticidade destes utensílios, somou-se a arte decorativa portuguesa, fazendo disto uma atividade principalmente feminina, que vem sendo transmitida entre as mulheres das mesmas famílias.
Mantém-se até hoje a forma artesanal, usando somente as mãos, cascas, castanhas ou uma faca rudimentar, para fabricação dos objetos em barro. As ceramistas da região,como D.Tidinha, Aurinha, Livramento e outras já receberam prêmios nacionais e são reconhecidas como artistas, dada a sua criatividade.

foto daniel de andrade simões
texto stella petrasi

Vou Voar - Paris

foto daniel de andrade simões
Vou cuidar sem cuidar
Vou voar
vou direto ao passado
espero sem esperar
sonho sem acordar
duvido por duvidar
pesco sem rio ou mar
vivo a vida
sem pressa de chegar
na chegada sou faceiro
guardo tudo no meu embornal
versos poemas e esperanças

disfarçado no cajueiro
fico quieto sem prejudicar a espera
se cavalgo vou adiante
com meu cinto e cartucheira de poemas

texto e foto daniel de andrade simões

sábado, 15 de dezembro de 2007

Ateu

Esta falsa inata aparência
Este desconhecido de parto
Este nó que nem espelho desata
Este querer antes de estar morto
Este eu que busco e não canso

Algo que no final da curva diga
Mesmo bem velho alcanço
Antes que me alcance a fadiga indago
Qual será o nome de Deus ?
Qual será o nome do pai ?
Quem sou entre tantos eus ?
O nada quando o véu da ilusão cai ?
Vivo na fé de todos ateus
Quando ao final a vida se esvai

naVegar




Essa pátria
empata comigo
essa pátria aqui e por lá
se esconde ela é minha
e de todos
chamamos Brasil

Quero de volta
meu chapéu de couro
meu cavalo meu embornal
papoulas na caatinga
devolver o curso das águas
do nosso Rio Real

texto e foto daniel de andrade simões

Rio Real - João Moreira Sobrinho, pai do fotógrafo Daniel (João barbeiro de Rio Real-Ba)


não contavas comigo e à noite ao cair da noite
eis-me aqui compadre
ao baixar do pingo...
Diga as gentes
àquelas que ainda pranteiam
minha súbita partida
que hora sendo chegada
fica um pouco promulgada
hora de fraternidade
Pode, quem quiser, passar
dar a volta na cidade !
Mas depois
nada garanto,
Isso não depende de mim
sabes?
Isto é tempo de reforma,
deixemos por ora assim !

Wilson Barbosa ( poesia)
foto daniel de andrade simões